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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Empresas e urbanistas podem ter laboratórios vivos

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Artigo publicado no jornal Valor Econômico de 22/04/2014

O último livro de Alex Pentland - Social Physics, Editora Penguin – começa com uma observação crítica incontornável em torno daquilo que são as ciências sociais. Os dados em que se apoiam são marcados por uma dupla deficiência. Quando tentam acompanhar ao vivo e compreender como se formam e como se modificam os costumes humanos, os antropólogos e os etnólogos produzem textos frequentemente notáveis, mas baseados na observação de um número limitado de casos. Por outro lado, dados de recenseamentos ou pesquisas de opinião são massivos, mas estáticos: oferecem retratos aos quais os cientistas procuram dar vida por meio da elaboração de hipóteses relativas a sua evolução.
A grande novidade da física social é que pela primeira vez existe a possibilidade de obter, processar, analisar e discutir observações referentes aos comportamentos das pessoas no momento mesmo em que agem. As mídias digitais abrem caminho para que sejam formados laboratórios vivos, nos quais se pode não apenas observar a formação e as mudanças na cultura humana, mas também interferir sobre sua dinâmica. A disponibilidade dessas informações traz a chance inédita de que sejam testadas empiricamente hipóteses referentes ao fluxo de ideias e informações e sobre a maneira como interferem nos comportamentos dos indivíduos. Em alusão aos microscópios e aos telescópios, Pentland fala de socioscópios, para caracterizar a física social.
O livro explora as consequências dessa abordagem para as organizações empresariais e para o planejamento urbano. No caso das empresas, o grande achado é que a inovação não vem nem de indivíduos excepcionalmente bem dotados nem de incentivos econômicos convencionais. Vem de redes. O segredo está em combinar laços fortes de confiança (característicos de pessoas que se conhecem e se encontram com frequência) com laços fracos que estimulam indivíduos e grupos a buscar informações e formas de abordagem diferentes daquelas às quais suas próprias redes estão habituadas.
Quanto às cidades, o laboratório de Pentland coordena iniciativas de planejamento baseadas no uso de “big data” em Trento, na Itália, e em Abidjan, na Costa do Marfim. Em ambos os casos, o trabalho é levado adiante em aliança com universidades, empresas de telecomunicações, governos e organizações da sociedade civil, para abordar temas de mobilidade, saúde pública, abastecimento e segurança de forma inovadora.
As tecnologias que permitem acompanhar ao vivo aonde vamos, como nos deslocamos, com quem falamos e em que tom de voz, o que compramos, o que baixamos na internet, o que comemos e o que vestimos inspiram o temor de que o crescimento das mídias digitais seja acompanhado pela perda das liberdades humanas.
Pentland, que é frequentador assíduo do Fórum Econômico Mundial e cujas orientações de doutorado resultam com frequência em start-ups dirigidas por seus alunos, está consciente desse risco. A maneira de evitá-lo passa pelo que chama de um “New Deal on Data”, ou seja, um conjunto de garantias protocoladas, pelas quais cada um de nós é dono das informações que produz (voluntariamente ou não) e sua utilização só pode ser feita com o objetivo de produzir o bem público e mediante autorização consciente e bem informada. Um caminho interessante para que o avanço científico e tecnológico contribua para fortalecer não só o bem-estar material, mas a democracia nas sociedades contemporâneas.

Foto: Frits Ahlefeldt/Creative Commons

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