Foto: Fellipe Abreu |
“Por que deveríamos nos importar com o que acontecerá com o planeta daqui a 100 anos, se não estaremos mais aqui?”, pergunta Matthieu Ricard. Não são poucas as pessoas que pensam desta maneira. Elas foram criadas a partir da lógica do egoísmo e individualismo, que nortearam a mentalidade da sociedade de consumo contemporâneo. Mas o que estas pessoas esquecem é que as futuras gerações devem ter o mesmo direito que as atuais. “O que estamos fazendo agora irá impactar milhões e milhões de pessoas que nem existem ainda. O direito à reciprocidade precisa ser respeitado – entre nós e as futuras gerações, entre nós e as milhões de espécies que habitam a Terra”.
Foi desta maneira que Matthieu iniciou sua palestra pela manhã (18/05), no auditório da Editora Abril, em São Paulo. O monge tibetano está no Brasil para lançar seu novo livro, A Revolução do Altruísmo, pela Associação Palas Athena, com apoio do Planeta Sustentável e do Hospital Albert Einstein.
“Altruísmo e desafio ambiental” foi o tema da conversa, diante de uma plateia lotada. Especialista em biologia molecular, o francês com doutorado no renomado Instituto Pasteur, deixou Paris para se dedicar ao mundo da meditação. Foi considerado o homem mais feliz do mundo por cientistas, depois de ter passado por diversos testes de mapeamento do cérebro. Hoje, mora no Nepal e se dedica aos projetos humanitários realizados por sua fundação: Karuna-Shechen. Além de ser um super fotógrafo, com livros publicados e exposições realizadas na capital da França, ainda é colaborador da revista National Geographic.
Ao falar sobre meio ambiente, Matthieu Ricard afirmou como a humanidade foi pega de surpresa pelo impacto que vem causando ao planeta. “Estamos à beira de um abismo”, comparou. Entre os anos 1950 e 2000, a intensa atividade humana acelerou a degradação do mundo onde vive: houve uma perda colossal da biodiversidade, uso abusivo da terra e da água, aumento da acidificação dos oceanos.
Este impacto extremamente prejudicial para a natureza foi provocado principalmente pelos países desenvolvidos. O americano, por exemplo, emite 200 vezes mais dióxido de carbono na atmosfera do que um morador da Tanzânia. Ao mostrar um mapa com o maior número de fatalidades do mundo, fica claro ver quem são os que mais sofrem. “As mudanças climáticas matam os mais vulneráveis. É a chamada injustiça climática”, disse.
Matthieu apresentou dados sobre os efeitos arrasadores que o aquecimento global poderá trazer para a vida da população destes países. O degelo do Himalaia – que ele tem acompanhado – levará inundação para centenas de vilarejos da região. Haverá o crescimento de casos de doenças infecciosas, como a malária, por exemplo. “Mesmo que a temperatura global só aumente 2oC, o planeta ficará irreconhecível”.
Então como seria possível mudar este cenário tão desolador? Para ele, o altruísmo é a resposta. O ser humano precisa ser estimulado a agir com mais empatia, benevolência e cooperação. O monge tibetano defende que haja uma revolução – que se articule uma mudança social e institucional para levar as pessoas a serem mais altruístas. “É essencial ter mais consideração pelo outro”.
E não é só. Matthieu Ricard prega que o altruísmo permeie também a economia. Sim, ele acredita que isso é possível. É o que ele chama de caring economics (economia que se importa, em tradução livre).
O monge cita exemplos de empresas bem sucedidas que estimulam a cooperação e não a competitividade. “A evolução da humanidade está baseada na cooperação”, afirma.
Na área da educação, diversos experimentos internacionais também apontam que crianças pequenas que são incentivadas a agir de maneira altruísta e cooperativa melhoram seu comportamento e se tornam mais pró-ativas socialmente.
Questionado por um espectador da palestra sobre o papel da mídia nesta nova revolução, o monge destacou que é necessário ressaltar nos noticiários e manchetes a esperança e a capacidade das pessoas em fazer o bem. E como estimular o altruísmo no mundo dos negócios, perguntou outra pessoa? “Estudos comprovam que empresas com ambientes de trabalho mais felizes são mais bem sucedidas”, respondeu.
Ao final da manhã, Matthieu Ricard enumerou cinco pontos que seriam a base da revolução que tornaria o mundo um lugar mais sustentável:
- aumento da cooperação;
- harmonia sustentável (buscando acabar com a desigualdade social e mudando a mentalidade do consumismo excessivo; este é o título de um dos capítulos do novo livro);
- caring economics; - comprometimento local, responsabilidade global e;
- disseminação do altruísmo para todos os seres do planeta.
Indagado sobre como enfrentar a paralisia e a alienação das pessoas ao mundo real, o monge respondeu sorridente: “Be Good! Do good!” Seja bom e faça o bem!
Matthieu Ricard diante da plateia lotada no Auditório da Editora Abril. Foto: Fellipe Abreu |
“O direito à reciprocidade precisa ser respeitado”, defende o monge budista. Foto: Fellipe Abreu
Assista abaixo a palestra completa de Matthieu Ricard, que teve transmissão ao vivo pelo Planeta Sustentável:
Fonte: Planeta Sustentável
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