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sábado, 26 de setembro de 2015

Agrotóxico no leite materno


O médico e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Wanderley Pignati, coordenou o projeto de pesquisa em que foram estudados os resíduos de agrotóxicos em amostras de ar, água de chuva, sedimentos, água de poço artesiano, água superficial, sangue e urina humanos, alguns dados epidemiológicos, má formação em anfíbios e o leite materno de 62 mães, coletado entre a 3ª e a 8ª semana após o parto. Realizada de 2007 a 2011, pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) no município de Lucas do Rio Verde, a pesquisa revelou a contaminação do leite materno por pelo menos um agrotóxico em 100% da amostra.

Nos 62 casos, foram encontrados resíduos de DDE, um derivado do DDT, indicando intoxicação passada. “Vários tipos de agrotóxicos se depositam na gordura e muitos deles, como os clorados, nunca mais saem dela. E o leite materno é composto por 2 a 3% de gordura”, ensina Pignati. O DDE foi banido no Brasil em 1998, devido a sua permanência no meio ambiente e no corpo humano. Isso significa que sintomas podem vir ao longo do tempo. Outro agrotóxico de alta toxicidade e resistência, prejudicial aos sistemas reprodutivo e endócrino, foi diagnosticado em 44% das mulheres, o endosulfan (proibido pela Anvisa desde de 31 de julho de 2013). Usado desde a década de 70, este componente ganhou destaque na cultura cafeeira do Brasil pelo controle da broca, mas era aplicado, também, nos cultivos de soja, algodão, cacau e cana de açúcar.


Mas os venenos não param por aí. Também foram localizados deltametrina em 37%; o aldrin em 32%; o alpha-endossulfam em 32%; alpha-HCH em 18% das mães, o DDT em 13%; trifularina, que é um herbicida, em 11%; o lindano, em 6%. “Esses agrotóxicos são lipofílicos e se acumulam no tecido gorduroso, então ficam no organismo e passam para o sangue da mãe. Através da placenta, como há troca de sangue entre mãe e feto, acabam atingindo o feto. E alguns têm a capacidade de passar a barreira da placenta e atingir o feto”, explica Danielly Palma, uma das pesquisadoras. Como essas substâncias podem afetar o bebê? Todas têm o potencial de causar má formação fetal e indução ao aborto. Em um período de 10 anos, os problemas de malformação por mil nascidos em Lucas do Rio Verde saltaram de 5 para 20.


Um dado interessante (e alarmante) é que das 62 mulheres apenas uma declarou ter contato direto com agrotóxico. A maioria das participantes trabalhava no comércio ou como professoras do município, donas de casa… Ou seja, o perigo certamente extravasa os limites do campo e da relação direta com o veneno. Segundo o estudo, os agrotóxicos aparecem no corpo humano pela ingestão de água, pelo ar, pelo manuseio dos produtos e pelo consumo de alimentos contaminados, uma das principais vias de exposição.

Fonte: Teia Orgânica

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