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sexta-feira, 19 de junho de 2015

Época de comer pinhão e de colaborar na preservação da Araucária


Estamos na época do pinhão. Essa semente nutritiva e saborosa vem da araucária e muita história há por trás de uma das árvores nativas mais populares do Sul do país.

A araucária brasileira (Araucaria Angustifolia), conhecida também por pinheiro-do-paraná ou pinheiro-brasileiro, faz parte do ecossistema denominado Floresta com Araucária. Originalmente, essa floresta ocupava um terço da Região Sul do Brasil. Com o passar dos anos, calcula-se que 100 milhões de pinheiros viraram toras nas serrarias do Sul e Sudeste, restando, em 2001, cerca de 2% da cobertura original.


De acordo com a Embrapa, a exploração da espécie aconteceu por múltiplos motivos: pelo avanço da fronteira agrícola e crescimento das cidades, por possuir madeira de qualidade para fabricação de móveis e ser boa matéria-prima para papel e celulose. Essas árvores começaram a tombar ainda na segunda metade do século 19, tendo a derrubada atingido seu ponto de saturação na década de 1970. “Todo o madeiramento de Brasília é de araucária”, diz o agrônomo Anderson Silveira. Havia, inclusive, forte incentivo governamental. Em 1963, o pinheiro representava 92% das exportações de madeira do país.

O pinheiro foi tão explorado que passou a figurar na lista das espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção. O professor da Universidade Federal do Paraná, Flávio Zanette, afirma que a decadência da espécie atingiu “nível crítico nos últimos anos” e a araucária deixou de estar apenas ameaçada. Ou seja, ações imediatas devem ser tomadas para evitar o fim da árvore símbolo do Estado.

A boa notícia é que, embora tenha um ciclo de desenvolvimento longo, a capacidade de germinação da planta é alta e chega a 90% em pinhões recém-colhidos. Convém lembrar que as araucárias demoram normalmente de 12 a 15 anos para começar a produzir, que é quando alcançam em média 10 metros de altura.



Para incentivar a população a reverter esse triste quadro, a ação Dia de Plantar Pinheiros convida as pessoas a plantarem novas araucárias, tanto na zona rural como na urbana, desde que a região faça parte da área original da árvore (veja o mapa aqui). A data desse plantio em massa é dia 24 de junho, definido como o Dia Nacional da Araucária.

É possível plantar mudas ou os próprios pinhões. Veja algumas dicas de como colocar a mão na terra e participar.

Guia básico de plantio da araucária

Foto: Orlando Azevedo.

1. Escolhendo as sementes

A qualidade das sementes é muito importante para a produção de novas árvores, pois elas garantem altos índices de germinação e favorecem o desenvolvimento inicial das plantas. As melhores sementes são graúdas, isentas de fungos e de furos.

2. Armazenamento

As sementes devem ser guardadas em embalagens arejadas. Sacos plásticos são desaconselháveis, pois favorecem o acúmulo de umidade e o desenvolvimento de fungos. Também é importante que fiquem afastadas de sol direto.

3. Plantio

A época adequada para o plantio é nos meses de inverno, porque é quando os pinhões estão novos. A araucária é uma espécie que gosta de sol, mas na fase de germinação e crescimento até dois anos, prefere leve sombreamento. Devido ao seu tamanho, o Pinheiro não deve ser plantado próximo a residências, calçadas e redes elétricas.

É possível optar pelas seguintes alternativas para o plantio:

a) Produzir as mudas em embalagens e depois plantá-las nos locais definitivos:
 A produção de mudas provenientes do plantio de sementes em embalagens diminui o risco do ataque de pragas. A desvantagem ocorre na transferência para o solo, pois as raízes são muito sensíveis e podem ser danificadas, provocando a morte da muda ou dificultando o seu crescimento.

As mudas devem ser produzidas em embalagens com altura mínima de 20 cm. Os pinhões (semente) deverão ser enterrados deitados em uma terra rica em humus, cuidando para que esta terra permaneça úmida, mas nunca encharcada. O ideal é plantar a muda seis meses após a sua germinação ou quando ela atingir 20cm, aproximadamente. A cova deve ter profundidade um pouco superior ao tamanho da embalagem. Ao plantar, a embalagem deve ser retirada cuidadosamente para não danificar as raízes.

b) Plantio diretamente no solo:
 O plantio direto da semente é simples e necessita de pouca mão-de-obra. Além disso, as árvores tendem a ser mais vigorosas porque suas raízes apresentam melhor desenvolvimento. A desvantagem é a perda de parte das sementes que são consumidas pela fauna. É recomendável que as sementes sejam enterradas em locais que recebam um pouco de sombreamento durante o dia, como nas proximidades de bordas de matos ou arbustos. As sementes não devem ser plantadas muito próximas umas das outras, pois a araucária é uma árvore de grande porte e precisa de espaço para seu desenvolvimento.

Informações adicionais compiladas pela SOS Araucárias:
* Araucárias isoladas não dão pinhão. Existe araucária MACHO e araucária FÊMEA e ambas “cruzam” entre si, num fenômeno conhecido por polinização de estróbilos (masculinos e femininos).
* Para que se tenha pinhão, é preciso que machos e fêmeas próximos se polinizem. Leva-se de 10 a 15 anos (após o plantio) para saber se foram plantados machos ou fêmeas, ou ambos.
* As Araucárias fêmeas florescem o ano inteiro, as machos florescem entre os meses de agosto e janeiro.
* A polinização ocorre entre setembro e outubro. A árvore macho poliniza a árvore fêmea (veja). O pólen é transportado pelo vento, por isso alguma proximidade entre os novos pinheiros é útil, mas considere (1) o porte e a copa da futura árvore adulta e que (2) a sombra de uma araucária pode anular o crescimento de outra (veja).
* Entre abril e julho – 20 meses depois da polinização – as pinhas amadurecem e soltam pinhões. Como uma árvore fêmea possui muitas pinhas e a polinização ocorre em momentos distintos, é comum uma mesma árvore gerar pinhão todo ano, durante TODA a vida da árvore.
* O pinhão mantém a maior viabilidade de plantio até os 120 dias depois de sua queda. Nesse prazo, a taxa de germinação é elevada e o broto surge de 20 a 30 dias após ser semeado.
* A araucária aprecia solos bem drenados e preferencialmente férteis. Ocorre em florestas ou bosques bem conservados, mas depende da existência de clareiras e bordas para o desenvolvimento dos indivíduos jovens.
* A araucária é indicada para o paisagismo de praças, parques e jardins amplos, assim como de sítios, chácaras e fazendas – mas lembre-se que a araucária faz parte de um contexto, portanto privilegie plantios em locais onde a espécie possa se reproduzir e se expandir com plena liberdade, acompanhada das demais espécies do bioma (ex. erva-mate, bracatinga, aroeira, açoita-cavalo, canela-sassafraz, imbuia, cedro…).
* Plantar pinhões em áreas de reserva legal de chácaras ou fazendas de amigos, assim como áreas naturais públicas (parques e reservas naturais) é uma excelente opção.

Foto: Orlando Azevedo.

Pinhão
A semente da araucária, o pinhão, é uma iguaria com alto teor nutricional. Sua polpa é formada basicamente de amido, sendo muito rica em vitaminas do complexo B, cálcio, fósforo e proteínas. Mas é seu potencial como alimento funcional que tem atraído o interesse dos pesquisadores. “É um alimento sem glúten, com altos teores de proteínas, fibras alimentares e amido”, explica Cristiane Helm, pesquisadora da Embrapa.

Atualmente, a colheita da semente é artesanal e extrativista e ocorre normalmente no final de março a julho. Os coletores de pinhão valem-se, em grande parte, de uma mata regenerada, que cresceu onde as antigas serrarias entraram em decadência. Caso sejam mantidos em pé, os pinheiros oferecerão frutos por cerca de 200 anos e, em média, quarenta pinhas por ano. Cada pinha pode conter até 150 pinhões.

E aí, vamos plantar pinhão?

Fontes: Teia Orgânica, Embrapa, SEMA RS, Redação Ambiente Brasil, SOS Araucárias, National Geographic Brasil

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