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sexta-feira, 21 de março de 2014

O glamour do lixo

Principal evento de moda de Brasília, a Capital Fashion Week será realizada só em setembro, mas tem, desde já, uma musa: a estilista Lua Guirra recebeu o convite oficial e acaba de confirmar a presença. Ela tem tudo para fazer sucesso, ou, como se diz no meio, "causar", exibindo um estilo nada convencional — suas peças são feitas com objetos que normalmente iriam para o lixo. Na casa da maioria das pessoas, esse seria o destino de caixas de ovos, garrafas PET e inutilidades afins. No quintal da pequena moradia de Lua, em Planaltina, tudo isso vira roupa e, principalmente, conceito.

Assim, ela se alinha a uma tendência que, no mundo das passarelas, é chamada de moda sustentável.

Rodrigo Rodrigues
Entre os expoentes do segmento estão dois profissionais nascidos no Rio Grande do Sul: Baby Steinberg, hoje no Canadá, e Oskar Metsavaht, que mora no Rio. Ambos trabalham com materiais que vão da juta ao algodão orgânico. Além deles, Brasil afora desponta mais gente com ideias semelhantes, como o mineiro Ronaldo Fraga e o pernambucano Melk Z-Dae. No exterior, o maior ícone é Stella McCartney (filha do beatle Paul), aclamada por unir, em suas coleções, ecologia e beleza — o que não é fácil.

Rodrigo Rodrigues
Goste-se ou não, e desconsiderados os exageros aceitáveis a um conceito ainda em franca ebulição, parece que a ecofashion chegou para ficar. Segundo o professor Régis Puppim, do Instituto Federal de Goiás, a moda sustentável não é uma tendência passageira, como foram, por exemplo, as calças boca de sino, que duraram alguns anos, especialmente na década de 70, mas depois acabaram caindo em desuso. "Precisamos pensar em uma cadeia produtiva também quando o assunto é roupa, de modo que não se destrua o planeta", diz. Nesse sentido, ele elogia o trabalho de Lua: "Seus vestidos têm grande potencial de comercialização. Ela deve continuar investigando".

Rodrigo Rodrigues
Lua tem dez irmãos e interrompeu os estudos ao completar o 2º grau, o atual ensino médio. Quando pequena, costurava os vestidos das suas bonecas e, na adolescência, não gostava de se vestir igual aos outros, criando sua própria indumentária. Depois de adulta, especializou-se em customização e ajustes de vestidos de noiva, em ateliês no Plano Piloto. Sua vida começou a mudar em outubro passado, quando foi chamada para fazer um desfile beneficente na creche São Vicente de Paula, em sua cidade. Fez burburinho e, de lá para cá, passou a ser convocada para eventos de empresas. A agenda lotou, e ela teve de adiar inúmeras vezes os encontros com o namorado, que vive em São Paulo.

Rodrigo Rodrigues
Ainda não se mostra satisfeita com seu próprio trabalho — o que não deixa de ser um bom sinal, num meio em que a criatividade se impõe como pré-requisito. "Estou trabalhando melhor a minha mensagem", diz a estilista, um tanto tímida, posando para fotos em frente ao muro de tijolos aparentes de seu quintal, provisoriamente transformado em ateliê. Mesmo modesto, ele tem sido visitado por gente importante, empresários do setor, muitos deles se virando para descobrir onde fica exatamente a casa da estilista: a numeração do seu condomínio não segue uma lógica matemática, e nem adianta tentar o GPS do carro, pois o sistema não localiza o nome da rua. VEJA BRASÍLIA chegou lá. E à revista a simpática e risonha Lua Guirra deu, então, a primeira entrevista de sua vida.

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