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sábado, 10 de maio de 2014

Emissões de CO2 tem a crescer mais na matriz energética brasileira



energia Emissões de CO2 tem a crescer mais na matriz energética brasileira
Foto: Marcello Casal Agência Brasil

Ethos e Fórum Clima promovem debate que aponta falhas graves no planejamento do setor
O planejamento defasado, a falta de incentivos eficazes para as fontes renováveis e a redução do consumo com mais eficiência energética sinalizam forte tendência ao aumento das emissões de gases de efeito-estufa pela matriz energética brasileira nos próximos anos. Esse é o panorama que se desenhou no seminário “Tendências da Matriz Energética Brasileira: Como Promover uma Economia de Baixo Carbono no Setor”, realizado em São Paulo dia 29 de abril pelo Fórum Clima – Ação Empresarial sobre Mudanças Climáticas, com apoio do Instituto Ethos. Especialistas dos setores público, privado e acadêmicodebateram as oportunidades e desafios em torno do tema, que tem forte impacto nas condições necessárias ao desenvolvimento sustentável do País.
O diretor de Políticas Públicas do Instituto Ethos, Caio Magri, abriu o seminário destacando “o momento propícioem função da campanha eleitoral” deste ano para estimular esse debate, que “exige maior protagonismo articulado das empresas para influenciar a gestão de demandas centrais e garantir a segurança energética para o desenvolvimento do Brasil, e ao mesmo tempo atender à necessidade de ampliar a participação das renováveis na matriz”.
Mediada por André Dorf, presidente da CPFL Renováveis, a primeira sessão de debates teve como tema exatamente a “Diversificação da Matriz Energética Brasileira e o Uso de Fontes Renováveis”. Ao apresentar um quadro detalhado do perfil atual de consumo, produção e distribuição de energia elétrica no País, o diretor da PSR Consultoria, Marco Antonio Siqueira, mostrou que o atual formato de gestão de oferta e demanda comporta distorções que podem conduzir a “um stress do sistema”.A razão é a falta de projetos para fornecimento ao chamado “mercado livre” – no qual os grandes consumidores negociam o suprimento de energiadiretamente com as operadoras – já que as geradoras e distribuidoras preferem investir em usinas aptas a competir nos leilões que asseguram previsibilidade de receita. “O financiamento de projetos para o mercado livre exige contratos de longo prazo, de dez anos ou mais, que só as companhias muito grandes podem assumir” – disse.Cerca de 27% da eletricidade consumida no Brasil são negociados no mercado livre.
Siqueira ressaltou que o mundo todo se espanta com a abundância de fontes de energia renovável no Brasil. “São fontes complementares: hidráulica gera mais no período úmido, enquanto a eólica gera mais no período seco.” Essas vantagens se diluem, porém, em consequência de diversos fatores relacionados ao planejamento, expondo o sistema ao risco de falta de energia para suprimento. Um dos fatores é o atraso no investimento em linhas de transmissão, outro é a utilização de um modelo de simulação de cenários hidrológicos que não considera, por exemplo, as condições atuais dos reservatórios mais antigos – que com o passar dos anos perdem produtividade em razão do assoreamento. “Agora, com a iminente necessidade de redução do consumo por causa da falta de chuvas, os técnicos do Operador Nacional do Sistema divulgaram que será necessário economizar de 4 a 5% da carga, enquanto as simulações da PSR indicam 8%. A diferença está no modelo. 8% é uma restrição razoável, mas pode chegar a 20% se as medidas de racionamento forem adiadas para 2015. É o grande risco daqui pra frente, com forte impacto na economia!” – alertou o consultor. 
Térmica no Brasil é loucura
“Desenvolvimento e produção de energia são variáveis interligadas” – definiu PhilipeJoubert, presidente executivo da Global EletricityInitiative e conselheiro do World Business for SustainableDevelopment. “No Conselho Mundial de Energia se discute um ‘trilema’: energia a preço acessível; energia não é sustentável se não é segura hoje; fornecimento energético tem quie respeitar o meio ambiente. Sem atender a esses três fatores, não tem solução viável.” Joubert disse que “não resistem à análise dos fatos” as conversas sobre “a energia renovável estar ganhando a batalha” porque “só com as usinas a carvão e gás em construção vamos ultrapassar a emissão de 1 trilhão de toneladas de C02, que é o máximo suportável pelo planeta”.
Quanto à atual situação aqui, Joubert relatou que “não se entende o BR usar térmicas, aumentar emissões, é uma loucura com toda essa riqueza de renováveis”. Ele vê um “grave erro de planificação com os problemas de transmissão, uma operação errada que eleva o preço e tem consequências desastrosas”. Comentou ainda que é necessário planejar a transição para uma matriz mais limpa a fim de evitar impactos desfavoráveis, acrescentando que “não tem como solucionar a questão climática se não atacarmos o problema das cidades, da eficiência da distribuição energética”. Uma das questões mais críticas, na visão dele, está relacionada ao preço que se paga pela emissão de carbono evitada: “Não vai mudar o comportamento das empresas se o sinal preço não está correto. Hoje o sinal preço do C02é uma brincadeira. Está 2 dólares na Europa, grátis no resto do mundo. Isso não incentiva ninguém a mudar. Então é um sonho pensar que vamos mudar a matriz energética para mais limpa sem ter um preço de C02 que seja pelo menos 50 dólares a tonelada, ou talvez mais.”
Para contextualizar o uso intensivo das térmicas mencionado por Joubert, Siqueira explicou que “as concentrações de eólica no Nordeste e hidráulica no Norte não suprem a demanda do Sudeste [62% do total]nas épocas de pico, daí temos de apelar para térmicas”. Essa distorção deve se aprofundar no futuro próximo: “Belo Monte vai gerar 100 unidades de energia de janeiro a março, e apenas5 unidades no período seco do sistema Sudeste, no segundo semestre, exatamente quando há demanda máxima. Um planejamento correto diminuiria muito a quantidade de térmica que precisamos colocar. Falta uma discussão mais ampla com a participação da sociedade”.
A abundância de elementos para produzir energia renovável permite diversificar e descentralizar a matriz, na opinião do diretor de Políticas Públicas do Greenpeace, Sérgio Sá Leitão. “A descentralização está na raiz de uma questão fundamental: é preciso quebrar os monopólios que dominam a gestão do sistema elétrico no Brasil” – apontou. “Não é índio, não é ambientalista que trava a expansão do sistema elétrico, não é hidrelétrica com grande reservatório. Quem atrasou as usinas do Madeira foi a briga das duas maiores construtoras do País que não se entenderam sobre a divisão do butim! E o governo não teve força pra regular isso em nenhum momento. Como não tem até hoje. A briga dos consórcios não acabou.”
Sá Leitão fez coro, também, às críticas ao “planejamento do setor, que continua nos anos 50, fazendo o casamento da curva de demanda econômica com a curva de expansão do sistema, quando o mundo procura operar no sentido contrário, procurando produzir mais unidades do PIB com menor consumo de energia”.
Eficiência Energética
“Implementação da eficiência energética e o papel do setor privado” foi o tema abordado na segunda sessão de debates, com mediação de Adriano Nunes, diretor de Inovação e Sustentabilidade da Intercement, empresa do grupo Carmargo Correa. Ao traçar um panorama sobre a questão na legislação e dos programas do governo brasileiro, Álvaro Furtado Leite, diretor da Cenergel – Consultoria em Sistemas Energéticos, salientou a falta de um instrumento de governança para o tema no sistema brasileiro, “como há no setor elétrico o Operador Nacional do Sistema, órgão privado sem fins lucrativos, modelo que poderia ser seguido para a implementação do Plano Nacional de Eficiência Energética”, que existe desde 2010. Na opinião dele, “incentivo fiscal é o ponto onde o Brasil mais falha: um raio X na tarifa mostra dezenas de tributos. 22% ficam para a concessionária;o resto é imposto. Quem está pagando?? Somos nós. Gordura pra dar incentivo à eficiência energética pela tarifa com certeza existe. A forma de tarifação não incentiva a indústria do setor elétrico a realizar esse investimento”.
O coordenador de Usos Finais de Energia da AES Eletropaulo, Fernando Bacelar, concordou que “o governo tem de abrir mão de alguns impostos, para incentivar de fato a eficiência energética e a entrada das fontes alternativas no sistema de forma mais consistente”.
(Envolverde) 
 
Fonte: Site Envolverde por Sávio de Tarso.

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