por Caio Neumann, para o Ideia Sustentável
Em sua obra mais recente, Talent, Transformation, and the Triple Bottom Line (Jossey-Bass/2013),
ainda não publicada no Brasil, Andrew Savitz trata da importância do
papel dos setores de Recursos Humanos na “dosagem do açúcar” para se
atingir o” ponto doce da sustentabildidade” – uma metáfora sobre o ponto
de intersecção entre a geração de valor econômico, ambiental e social.
Confira entrevista exclusiva de Savitz à edição especial de Ideia Sustentável sobre Recursos Humanos e Sustentabilidade.
IS: Em que ponto a área de Recursos Humanos se encontra, considerando a incorporação da agenda da sustentabilidade nos negócios?
Andrew Savitz: A maior parte das empresas está
começando a entender que o RH pode e deve ter um papel significativo nos
seus esforços de sustentabilidade. Infelizmente, no entanto, nem os
profissionais de RH nem os ligados diretamente à sustentabilidade sabem
como trabalhar juntos. Foi exatamente por essa razão que escrevi Talent,
Transformation and The Triple Bottom Line. Algumas empresas já enxergam
na sustentabilidade um fator que pode ajudar a atrair e reter talentos.
E até comunicam as suas práticas e iniciativas no momento de recrutar
pessoas. Outras integram a sustentabilidade aos esforços de
desenvolvimento de lideranças.
IS: O que falta para que as empresas compreendam a
importância estratégica da sustentabilidade e incluam o RH na mesa de
discussão relacionada ao tema?
AS: É óbvio que os departamentos de Compras,
Pesquisa e Desenvolvimento, Meio Ambiente e Segurança podem tornar uma
empresa mais responsável. Mas o papel do RH não é tão óbvio.
Sustentabilidade pede uma mudança fundamental de cultura. E, por tabela,
requer mudanças no desenho da organização e suas capacidades, assim
como na força de trabalho do futuro.
IS: E como, em relação ao tema, o RH pode atuar na prática?
AS: Começando por ser mais consciente de que ele tem
um papel importante. Hoje, e cada vez mais, as empresas que quiserem
ser bem-sucedidas nos diferentes mercados terão de contabilizar os
fatores ambientais e sociais. À medida que a sustentabilidade ganha
centralidade na estratégia do negócio, o RH precisa se envolver e
participar mais diretamente da condução do tema nas companhias.
IS: Quais devem ser as tarefas principais do RH?
AS: Os gestores de RH precisam, antes de mais nada,
entender como a sustentabilidade está afetando as metas de negócio da
companhia. A sustentabilidade pode demandar novas habilidades, como na
indústria automotiva, que precisa contratar engenheiros capazes de
projetar carros elétricos. Isso pode exigir novas formas de colaboração
com pessoas de fora da empresa. Cabe ao RH, por função, apoiar
transições desse tipo.
IS: Muitos gestores de RH alegam não fazer mais pelo tema
porque, apesar das oportunidades que ele proporciona, ainda encontram
resistências por parte da alta direção da empresa. Como superar essas
resistências?
AS: Bons argumentos são fundamentais. O profissional
de RH precisa reunir informações de pesquisa, estudos de caso e números
que não deixem dúvidas sobre a importância da sustentabilidade para os
resultados do negócio. Há muitos dados disponíveis.
IS: Quais as melhores práticas de atuação de RH em sustentabilidade que o senhor identificou na pesquisa para o livro?
AS: Reuni alguns bons cases, todos eles muito
inspiradores. A Starbucks é um caso exemplar de engajamento dos
funcionários. Já a General Electric está entre as melhores experiências
de mudança de cultura e de intersecção entre as estratégias de negócio,
de sustentabilidade e de talentos. Na Ingersoll Rand, identifiquei uma
prática exitosa, e muito útil para empresas, de mensuração da correlação
entre a sustentabilidade e o nível de lealdade dos funcionários.
IS: Em relação a programas de desenvolvimento para a sustentabilidade voltados para líderes, quais exemplos destacaria?
AS: A Mahindra&Mahindra, uma montadora líder na
Índia que considera a sustentabilidade em cada aspecto dos programas de
desenvolvimento dos seus líderes. A Unilever também é sempre um destaque
certo. Gosto da iniciativa de enviar jovens líderes para países em
desenvolvimento onde eles aprendem sobre mercados e sustentabilidade.
IS: Se tivesse que dar um conselho a um CEO para empoderar o RH para uma mudança rumo à sustentabilidade, o que diria?
AS: Proporia dois passos. O primeiro consiste em
assegurar que o gestor de RH compreenda realmente como a
sustentabilidade pode contribuir, efetivamente, para a missão central do
próprio RH, como recrutamento, retenção de talento, motivação,
desenvolvimento de carreira, entre outros. O segundo passo é criar as
condições para que os profissionais de RH estabeleçam relacionamentos
produtivos com os profissionais ligados à sustentabilidade na
organização. Essa colaboração é fundamental.
IS: O que o levou a escrever um livro tratando da relação entre o RH e a sustentabilidade?
AS: Sustentabilidade pressupõe mudanças. Não vejo
outra maneira de as companhias mudarem senão fazendo com que as pessoas
dentro dela mudem. De uma política de incentivos e compensações até o
treinamento e o desenvolvimento de carreira, ao cuidar de quem é
contratado e com base em determinados critérios, os profissionais de RH
têm em mãos as melhores ferramentas para acelerar a mudança nas
organizações.
* Publicado originalmente no site Ideia Sustentável.
(Ideia Sustentável)
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