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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Especialista dá dicas para cuidados com árvores

Dr. Árvore mostra problemas em plantas encontradas pela cidade.
Pouco espaço para as raízes da árvore é um dos erros mais comuns.

Do G1 São Paulo


Pouco espaço, poda excessiva e cortes que permitem a proliferação de fungos são alguns problemas comuns encontrados em árvores de áreas urbanas de São Paulo.

 
Plantadas em pequenos canteiros em calçadas, árvores e plantas grandes não recebem oxigênio, água ou nutrientes suficientes para as raízes. “A árvore fica enforcada. Não consegue mais crescer em largura e pode morrer”, explica o botânico Ricardo Cardim, Dr. Árvore.

Não deixar espaço para as raízes 'enforca' a árvore. (Foto: Reprodução/TV Globo) 
Não deixar espaço para as raízes 'enforca' a árvore. (Foto: Reprodução/TV Globo)
Antes de plantar árvores em pequenos canteiros é importante ficar atento à espécie da planta e o quanto ela deve crescer. O fícus, segundo Cardim, é uma árvore comum na arborização da cidade, mas que cresce muito, derrubando calçadas e muros. “É uma espécie inadequada para a calçada”, explica.

A espécie da árvore deve ser considerada ao arborizar a rua. (Foto: Reprodução/TV Globo) 
A espécie da árvore deve ser considerada ao arborizar a rua. (Foto: Reprodução/TV Globo)
A poda também precisa ser feita de maneira correta. O corte não deve ser feito com facão, pois isso deixa a superfície do tronco áspero que convida a doenças, fungos e bactérias. Deixar tocos de madeira pendurados na planta também favorece doenças na árvore, pois a madeira apodrece e o tronco da árvore fica exposto a agentes de decomposição.

Poda inadequada favorece o aparecimento de fungos. (Foto: Reprodução/TV Globo) 


Poda inadequada favorece o aparecimento de fungos. (Foto: Reprodução/TV Globo)
Tratar as plantas como mobiliário urbano é outra questão observada por Cardim. “Trataram a árvore como um objeto, como algo que não tem vida. Ela simplesmente foi incorporada durante a concretagem do muro”, observa. Dependendo da espécie plantada nessas condições, o muro pode ser derrubado ou a árvore morre por falta de espaço para crescer. 


Muros ou outras estruturas próximas da árvore podem prejudicar o crescimento da planta. (Foto: Reprodução/TV Globo) 
Muros ou outras estruturas próximas da árvore podem prejudicar o crescimento da planta. (Foto: Reprodução/TV Globo)
A secretaria de coordenação das subprefeituras disse ao SPTV que vai tirar a mureta de concreto próxima da paineira flagrada pela reportagem. A estrutura será substituída por uma de metal, para dar mais espaço à árvore.
Ao cuidar de árvores, evite:
- Colocar concreto nas raízes da planta
- Plantar espécies de árvores muito grandes em espaços pequenos
- Fazer poda inadequada
- Colocar muros ou outras estruturas próximas da árvore
- Agredir o tronco com facadas ou pregos. Prefira fitilhos ao decorar tronco
- Colocar sacos de lixo na raiz da planta.

Fonte: G1/Verdejando

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Qual desenvolvimento teremos a partir de 2015?



or Melissa Pomeroy e Bianca Suyama*
fome no mundo3 1024x731 Qual desenvolvimento teremos a partir de 2015?
Porto Príncipe (Haiti) – Cité Gerard, zona da grande Cité Soleil, o símbolo da miséria no Haiti é um biscoito feito de barro, água e manteiga. Batizado de “Té”, a receita serve para tapear a fome. Mulheres desesperadas coletam restos de construção e misturam com água e manteiga em tinas de plástico e metal velhas e sujas. Foto: Marcello Casal Jr./ABr – Fotos Públicas

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável serão o novo marco global de desenvolvimento. O desafio é criar metas menos generalistas, como as dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
 
A agenda de desenvolvimento Pós 2015, que culminará nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aspira ser o novo marco global para o desenvolvimento. Uma vez acordada, será essa agenda que orientará as políticas e investimentos de países em desenvolvimento e, principalmente, daqueles classificados como países de baixa renda, que dependem sobremaneira da cooperação internacional e dos financiamentos geridos pelas Instituições Financeiras Internacionais (IFIs). Assim como aconteceu com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), o consenso ao redor dos ODS significa um pacto político da comunidade internacional e deverá, teoricamente, orientar a agenda das agências de cooperação internacionais e organizações multilaterais, servindo como instrumento para canalizar recursos e definindo formatos e estratégias de atuação.
Se por um lado os ODMs foram importantes para elevar e legitimar internacionalmente a importância do combate à pobreza, em um período marcado pelo evidente fracasso do decálogo de recomendações e condicionalidades do Consenso de Washington, por outro são inúmeras as críticas relacionadas ao seu processo de construção e resultados. Em busca de um consenso entre os diversos Estados-membros da ONU, os ODMs se constituíram em oito metas generalistas, baseados em receituários e desvinculados de outros compromissos firmados em âmbitos multilaterais ou regionais. Ainda, as metas pecavam por sua falta de perspectiva de gênero e sua pouca reflexão sobre a desigualdade como causa da pobreza.
O processo de elaboração da agenda pós 2015 apresenta algumas respostas às críticas elaboradas aos ODMs, mas o acordo selado na 69ª Assembleia da ONU em relação aos ODS segue se configurando como uma agenda de desenvolvimento mínima onde desafios e contradições substantivos persistem: esteve formalmente aberta à participação da sociedade civil, mas esta se caracterizou por desigualdades de recursos, informações e âmbitos de decisão; apresenta avanços nas questões de gênero (transversalmente e, marcadamente, em seu objetivo 5), mas não registra mudanças significativas em relação aos direitos sexuais e reprodutivos e à população LGBT; reconhece a importância dos povos indígenas, pescadores e mulheres rurais para o combate à insegurança alimentar, mas não os reconhece como atores fundamentais para o equilíbrio climático; baseia-se no tripé desenvolvimento econômico-social-ambiental, proposto pela Rio +20 e incorpora a necessidade de diminuir a desigualdade entre e dentro dos países (objetivo 10), mas sobrevaloriza o papel do setor privado como alternativa de financiamento para o desenvolvimento e não explora as contradições que o atual estágio de desenvolvimento capitalista impõe, no que diz respeito às causas da desigualdade social e das crises climática, financeira, alimentar e energética, à captura do político pelo econômico e à financeirização de bens comuns e meio ambiente.
Claramente, a formulação dos ODS é, em si, um importante campo de disputa sobre modelos de desenvolvimento e alternativas no âmbito internacional. Neste sentido, reforçamos a importância da cooperação internacional não só como campo de ação, mas também como espaço dinâmico de discussão política do que é considerado legítimo e possível. Dentro deste debate, muitos esperam que o Brasil e outros provedores de Cooperação Sul-Sul (CSS) contribuam com novos caminhos a paradigmas. À continuação, apontam-se alguns dos campos em disputa nos debates do Pós-2015, nos quais espera-se um protagonismo da delegação brasileira em diálogo com a sociedade brasileira, nos processos de negociação dos ODS.
 
Pobreza versus desigualdade
O objetivo declarado do sistema de ajuda ao desenvolvimento, ou cooperação Norte-Sul, é a redução da pobreza. As organizações internacionais tiveram grande papel na construção do entendimento sobre a pobreza e as maneiras de enfrentá-la. O foco exclusivo na redução da pobreza resultou, muitas vezes, na tecnificação e despolitização do desenvolvimento, que desconsidera as dinâmicas de poder que produzem e reproduzem a pobreza, exclusão e desigualdade.
Apesar de isso não significar que esforços globais para a redução da pobreza são dispensáveis, ressalta a necessidade de reflexão sobre quais devem ser os principais objetivos da cooperação e os caminhos para atingi-los. Neste sentido, a inclusão de um objetivo 10 – ‘’reduzir desigualdade inter e entre países” – deve ser visto como uma vitória. O grande protagonista desse embate foi o G77, China e Brasil (é importante ressaltar que a posição governamental foi influenciada pelo diálogo com a sociedade civil).
Entretanto, os indicadores do objetivo são pouco específicos. Nas propostas enviadas pela sociedade civil brasileira ao Grupo de Trabalho Interministerial sobre a Agenda de Desenvolvimento Pós 2015 do governo brasileiro foi ressaltada a necessidade de incluir a linguagem de direitos, especificando os diversos grupos sociais vulneráveis. A existência de dados confiáveis e desagregados para esses diferentes grupos também é essencial para o monitoramento das metas.
 
Um passo para frente e dois para trás – a necessidade de coerência de políticas
Um dos grandes desafios dos ODS é promover coerência de políticas que assegurem complementariedade de esforços em diferentes esferas – cooperação, comércio e financiamento. A coerência de políticas requer uma visão consistente do desenvolvimento perseguido. Diante dos diversos interesses em disputa, a construção dessa visão se configura como uma tarefa complexa (e, talvez, impossível).
Podemos observar essa complexidade na CSS brasileira, que se orienta a adensar suas relações com os países em desenvolvimento na busca de benefícios mútuos. Nessas relações, cooperação, incentivos comerciais, créditos concessionais e às exportações, muitas vezes, se misturam.
A área da agricultura, em particular, reflete as tensões entre diferentes interesses e visões de desenvolvimento. O Brasil compartilha experiências em agricultura familiar, ao mesmo tempo que promove o agribusiness via projetos de cooperação técnica e financeira. Para alguns, a complementariedade destas abordagens é o que justamente caracteriza a trajetória do desenvolvimento agrícola do País. No entanto, representantes da sociedade civil e da academia vêm ressaltando que estas lógicas, por serem contraditórias, estão exportando nossos conflitos internos.
Por outro lado, alguns projetos de cooperação se baseiam não apenas no compartilhamento de experiências mas, também, no diálogo direto com agendas multilaterais que respondem a uma noção de desenvolvimento na qual o comércio internacional joga um papel fundamental, como o Projeto Cotton 4, que simboliza batalhas travadas na OMC.
 
Responsabilidade e financiamento – Estado ou setor privado como indutor do desenvolvimento?
São cada vez mais influentes os discursos sobre parcerias público-privadas e modelos de governança multi-atores, que implicam em maior fragmentação da governança global, colocam em cheque a representatividade do sistema e não apresentam nenhum tipo de mecanismo de prestação de contas. Vale destacar também que, frente ao desafio de financiamento, organizações brasileiras, em consonância com movimentos internacionais, indicaram a criação de taxa sobre as transações financeiras internacionais como uma alternativa para levantar recursos para o desenvolvimento.
Ainda com relação ao financiamento, ao materializar as intenções de fortalecer uma ordem internacional multipolar, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) dos BRICS emerge como um peça importante. O NBD afirma perseguir o desenvolvimento sustentável, porém a definição sobre qual é o seu entendimento sobre esse conceito será decisiva e definirá o caráter dos projetos financiados. Frente à importância da diversificação de financiamento para apoiar projetos alternativos preocupa o fato de que os esforços brasileiros em relação a potenciais fontes para países do Sul – o ‘Fundo IBAS para o Alívio da Fome e da Pobreza’ e o Banco do Sul – continuem cambaleantes.
Com relação ao setor privado, é preocupante a tendência em redirecionar foco e recursos da cooperação para proporcionar ambientes favoráveis ao negócio e promover a participação do setor privado no desenvolvimento dos países.
A negociação dos ODS faz transparecer as diversas posições que estão disputando os caminhos da agenda de desenvolvimento internacional. Apesar das questões relacionadas à legitimidade e representatividade do processo de construção dos ODS, o engajamento neste debate é importante pois ele pautará não só a agenda da cooperação internacional, mas também definirá as noções de desenvolvimento que serão difundidas pelas organizações multilaterais.
O papel do Brasil tem sido definitivo em algumas questões (como os objetivos 10 e 16) e espera-se que, na definição de indicadores e meios de implementação, o País mantenha seu protagonismo em diálogo com a sociedade brasileira. Esse diálogo é congruente com a visão que a política externa, assim como qualquer política pública, está sujeita à disputa de interesses presentes na sociedade e deve, portanto, estar sob escrutínio público e contar com espaços institucionalizados de participação, conforme a demanda por conformação de um Conselho Participativo de Política Externa, onde se incluiria também os debates sobre cooperação internacional.
 
 
* Melissa Pomeroy é coordenadora de programas do Centro de Estudos e Articulação da Cooperação Sul-Sul (Articulação SUL) e coordenadora do Observatório Brasil e o Sul. Bianca Suyama é coordenadora executiva do Articulação SUL e integrante do GRRI. Veja mais análises e notícias em http://obs.org.br/pos2015.
** Publicado originalmente pelo Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais e retirado do site Carta Capital.
                   

sábado, 4 de outubro de 2014

Como será a primeira cidade 100% sustentável do planeta?

Ela empregará apenas energias renováveis, reutilizará todo o lixo que produz, terá apenas transporte público (movido a eletricidade) e neutralizará toda a sua emissão de gás carbônico. Parece sonho, mas está virando realidade desde 2008, em um deserto nos Emirados Árabes Unidos, a 30 km da capital, Abu Dhabi
 
         
 

 

Por enquanto, Masdar (fonte, em árabe) é apenas um canteiro de obras em torno de seis prédios e uma universidade, mas, até 2030, quando ficar pronta, seus 6 km2 abrigarão 40 mil pessoas e apenas empresas não poluidoras. O custo do projeto será de cerca de US$ 22 bilhões.

URBANISMO ECOLÓGICO
Movida a sol e vento
Como a região recebe quase 12 horas diárias de sol, usinas solares com imensos painéis foram distribuídas estrategicamente ao redor do empreendimento. Uma torre de energia eólica de 45 m (o equivalente a um prédio de 15 andares) captará as correntes de ar frio e também informará aos moradores a quantidade de energia consumida no dia.

O pedestre é rei
Todos os veículos serão públicos, elétricos e automatizados e só circularão no subsolo. Por meio de totens eletrônicos, qualquer um poderá solicitar um carro para até quatro pessoas. Aí, é só digitar o endereço de destino no computador de bordo. Haverá também transporte coletivo em trilho suspenso, com partidas rumo a Abu Dhabi a cada meia hora.

Vá pela sombra
Quem planeja uma cidade do zero tem a vantagem de poder "mexer" nos seus elementos climáticos. Para aproveitar a brisa do deserto, Masdar será erguida sobre uma elevação de 7 metros. E, para evitar a incidência do sol escaldante da região, as ruas serão estreitas, potencializando a canalização do vento e a formação de sombras.

Coração e cérebro
A obra está crescendo em torno do Instituto de Ciência e Tecnologia, um prédio de 163 mil m2, que abriga um braço do aclamado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) dos EUA. Ela reúne pesquisadores e professores interessados em aprimorar as soluções de sustentabilidade. Já conta com 337 estudantes de 39 países (incluindo brasileiros).

Prédios espertos
Até a arquitetura dos prédios é controlada. Eles terão design inteligente, altura máxima de 40 metros e painéis solares no telhado. Elementos estruturais como madeira certificada e paredes duplas facilitarão o isolamento térmico. Serão abastecidos com água do mar da Arábia dessalinizada, reaproveitada após o uso.

Projeto com grife
O projeto urbanístico, encabeçado pelo famoso arquiteto inglês Norman Foster, inclui estações de tratamento de água e esgoto e centros de reciclagem. As diversas áreas arborizadas darão preferência a espécies que produzem biocombustíveis. A praça central terá toldos que vão abrir e fechar ao longo do dia, de acordo com a temperatura.

Polo corporativo
Uma das razões para os Emirados construírem Masdar é "limpar a consciência": atualmente, o país depende muito do petróleo abundante em seu território e tem uma das maiores taxas per capita de consumo de energia. A cidade pretende atrair até 1.500 empresas sustentáveis com um pacote de incentivos. General Electric, Mitsubishi e Siemens já estão confirmadas.

A terra há de comer
Masdar já recicla 86% dos resíduos da própria construção. A madeira é picada e aplicada em áreas ajardinadas e o concreto é moído e reutilizado no preenchimento do solo. Para restos orgânicos, a comunidade terá usinas públicas de compostagem, cujo adubo será usado nas áreas verdes. Moradores também receberão composteiras domésticas.

Fontes: Sites BBC, EXAME, Masdar e Foster and Partners

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

As Vantagens Comparativas do Brasil: Rumo ao Desenvolvimento Sustentável?

Acredito em nossa força de inovação privada para gerar, a custos mais baixos que a esmagadora maioria das nações, os produtos e serviços necessários à uma nova economia. Creio ter chegado a hora de provar que não estamos fadados a repetir nossos passos no século 16 e ficarmos, novamente, aquém de nosso potencial, desperdiçando nossas invejáveis vantagens comparativas.
Henrique Lian
Instituto Ethos
 
Zion PhotoGráfico/Creative Commons/Flickr
Se pudéssemos resumir a obra fundadora da moderna ciência econômica, A Riqueza das Nações (1776), do professor escocês de filosofia moral, Adam Smith, diríamos tratar-se de uma grande análise sobre os diferenciais competitivos entre as nações e uma apologia para que cada nação se concentre na produção de produtos para os quais possua nítidos diferenciais competitivos, importando todos os demais produtos. Esse foi o pontapé inicial da economia clássica, uma reflexão sobre o comércio internacional e sobre como qualquer nação pode atingir o crescimento, concentrando-se naquilo que é capaz de produzir melhor e mais barato, os dois consagrados direcionadores da vantagem competitiva.
Trazendo a discussão para um momento histórico mais próximo de nós, lembremos que a obra fundadora do pensamento e da reputação de Michael Porter, guru da gestão empresarial, é o livro The Competitive Advantadge of Nations, traduzido em doze idiomas. O trabalho do professor Porter, sobre como as nações criam prosperidade e a sustentam, traz como diferencial teórico a análise das causas da competividade a partir dos fatores de produtividade em um ambiente de competição empresarial, introduzindo, também, o conceito de clusters, ou seja, grupo de empresas/indústrias afins e complementares, interconectadas em determinados locais. Entre um marco teórico e outro, milhares de textos foram escritos sobre esse tema, dos papers de David Ricardo aos estudos de autores da chamada Escola Austríaca, como o de Israel Kirzner (Competição e Atividade Empresarial).

Imaginando, por mero exercício, talvez mais moral que intelectual, como aplicar um pouco dessa construção teórica ao caso do Brasil, observo que desde o século 16 não apresentamos tantas vantagens comparativas1 na ordem econômica global. Explico-me: naquele século, não casualmente o do nosso "descobrimento", possuíamos um conjunto de ativos que era o sonho do mundo desenvolvido de então. Estes eram metais preciosos, como ouro e prata, madeira e solo agriculturável para a produção de especiarias, como, por exemplo, a cana de açúcar que levava ao cobiçado açúcar, de qualidade muito superior (em sabor e potencial energético e adoçante) ao produto europeu à base de beterraba. Um conhecido conjunto de fatores - que inclui a natureza do próprio pacto colonial, a entrada muito atrasada no processo de industrialização, um processo de independência top down e a perpetuação do processo de dependência econômica que não é novidade para os países do nosso hemisfério - impediu a transformação desse conjunto de vantagens comparativas em vantagens competitivas. Ou seja, nosso potencial de apropriação de diferenciais não se traduziu em agregação de valor e crescimento da economia local.

Por graça, ou ironia, do destino, este início de século 21 nos presenteia, uma vez mais, com as características e os ativos desejados pelo mundo. Estes, porém, são agora de outra natureza e dizem respeito, principalmente, aos insumos necessários para a geração de energia renovável, ou seja: potencial hídrico de água doce, ventos, insolação, extenso litoral para aproveitamento da energia das marés, biomassa e sociobiodiversidade, tecnologia própria (e pioneira) para a produção de biocombustíveis e bioenergia etc.

Apresentam-se, também, fatores geopolíticos favoráveis, bastante independentes de nossa vontade ou alcance, como, por exemplo, a mudança no centro de gravidade da economia mundial, em função dos custos de produção e da localização dos insumos, e o redirecionamento dos fluxos de capital em função da crise dos mercados desenvolvidos.

As questões-chave, entretanto, são, por que e como transformar esse conjunto de vantagens comparativas, por vezes apelidadas de "credenciais verdes", em vantagens competitivas? A resposta à primeira pergunta é quase meramente retórica, em função das refinadas análises que a história econômica do Brasil tem merecido. Para citar alguns elementos contundentes, destaco:

1 - A oportunidade de romper com um padrão de comércio exterior do Brasil, de base agroextrativista com baixo valor agregado, sujeito às oscilações das commodities e sempre a serviço das necessidades de crescimento e desenvolvimento alheias;

2 - A possibilidade de se tornar um dos líderes de um novo ciclo econômico global que, embora retardado pelos percalços da crise econômico-financeira iniciada em 2008, será inapelavelmente desenvolvido, em função das atuais condições globais, considerando-se a demográfico global e a mudança inevitável dos processos de produção em função dos impactos (inclusive econômicos) das mudanças climáticas;

3 - A inversão da nossa pirâmide de emissões de gases de feito estufa que, com a redução do desmatamento na região amazônica, posiciona energia, processos industriais e agricultura como os processos mais emissores da nossa economia, amplamente sujeitos a esforços de redução de emissões a partir da renovação dos compromissos e metas a serem pactuados a partir da COP20, a ser realizada em Paris (2015).

Enfim, algumas respostas à pergunta que mais interessa tanto aos práticos quanto aos céticos de plantão: como transformar essas vantagens comparativas em vantagens competitivas?
Uma das poucas vantagens de se chegar atrasado ao processo de desenvolvimento é, justamente, não repetir os erros dos que foram pioneiros. Assim, tudo começa com a vontade política de fazer diferente e adotar um novo caminho. O momento seguinte é a promoção do diálogo social sobre qual modelo de desenvolvimento queremos e podemos implementar, com uma série de pactos e arranjos que permitam:

1 - Recuperar a capacidade de gestão pública e formular políticas e marcos regulatórios de estímulo às atividades sustentáveis, revogando os dispositivos contrários a ela, ainda abundantes;

2 - Estimular o empreendedorismo sustentável visionário, aproveitando a vasta margem de inovação em termos de processos de produção, produtos e serviços modelos de negócios;

3 - Eliminar as condições regulatórias adversas contraditórias atuais que confundem os investidores e ameaçam a competitividade empresarial (frente à concorrência nacional e internacional) nos casos de internalização de custos sociais e ambientais.

Para sintetizar, em uma equação, um possível modelo de desenvolvimento sustentável que aproveite os diferenciais do Brasil ofereço PIBe + Dt - Rt, onde PIBe é a baixa emissão de CO2e, com alto valor agregado e alta distribuição de renda por unidade de PIB gerada; Dt é a necessária Disrupção Tecnológica, baseada na integração das dimensões econômica, ambiental e social e na geração de valor nessas esferas; e Rt é o red tape, ou seja, o conjunto de incentivos à economia BAU (Business as Usual), as barreiras à inovação e a lentidão/cooptação da máquina pública, incluindo o comportamento corrompido de agentes privados.

As políticas públicas são fundamentais para o (re)direcionamento da economia. Porém, o rollout de qualquer nova estratégia ficará a cargo da iniciativa privada, sendo que seu sucesso depende de sua capacidade de adaptação ou modificação do mercado. As empresas brasileiras dão reiteradas provas de sua capacidade adaptativa. Porém, acredito mais ainda em nossa força de inovação privada, aproveitando as condições ímpares com as quais contamos para gerar, a custos mais baixos que a esmagadora maioria das nações, os produtos e serviços necessários à uma nova economia.

Creio ter chegado a hora de provar que não estamos fadados a repetir nossos passos no século 16 e ficarmos, novamente, aquém de nosso potencial, desperdiçando nossas invejáveis vantagens comparativas.

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Em termos simples, as vantagens comparativas são o conjunto de condições favoráveis que, em tese, permitem que uma nação ou empresa gere produtos melhores e/ou mais baratos que os concorrentes, enquanto as vantagens competitivas são, de fato, a transformação daquelas vantagens nesse tipo de produtos, com as devidas barreiras de entrada, tornando-os de difícil apropriação.
 
Fonte: Planeta Sustentável

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Proteger a Mata Atlântica custaria menos de 0,01% do PIB

 

por Redação da SOS Mata Atlântica
especies reduz 614x614 Proteger a Mata Atlântica custaria menos de 0,01% do PIB
Animais brasileiros em risco de extinção
Um estudo publicado na edição desta semana da revista Science, liderado pela bióloga brasileira Cristina Banks-Leite, professora da Imperial College London, na Inglaterra, e professora visitante na Universidade de São Paulo (USP) investigou custos relacionados à conservação da Mata Atlântica brasileira.
Resultado de uma extensa pesquisa sobre dados ecológicos e econômicos e do mapeamento de áreas estratégicas para a conservação, o trabalho concluiu que ações de conservação e recuperação da Mata Atlântica custariam ao Brasil 443 milhões de reais – o que equivale a menos de 0,01% do PIB. Esse valor seria destinado a esforços de restauração florestal e iniciativas de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e valeria para os 3 primeiros anos – após esse período o investimento diminuiria para menos de 0,0026% do PIB.
“Esse custo é mínimo considerando que o investimento em ações de conservação da floresta traz inúmeros benefícios para mais de 69% da população brasileira que vive na área de abrangência da Mata Atlântica. Estamos falando de serviços ambientais como regulação do clima, prevenção de enchentes e deslizamentos, melhoria na qualidade do ar e proteção do abastecimento de água”, explica Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica.
O estudo está disponível no site da Revista Science.
 
 
Artigo científico citado:
BANKS-LEITE, C. et al. Using ecological thresholds to evaluate the costs and benefits of set-asides in a biodiversity hotspot. Science, v. 345, n. 6200, 29 ago 2014.
* Publicado originalmente no site SOS Mata Atlântica.
(SOS Mata Atlântica)
 
 

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O que você precisa saber antes de reutilizar garrafas plásticas

 

KatherineDavis/Creative Commons/Flickr


Pergunta: se ela só contém água, qual é o problema se eu não lavar minha garrafinha de plástico? Resposta: se você tem uma garrafa que usa diariamente para tomar água, parabéns! Nós achamos ótimo que todos fiquem hidratados. Mas a questão é a seguinte: qual foi a última vez que você lavou essa garrafa d’água? Afinal, se você só a enche de água, ela não chega a ficar suja, certo?

Não é bem assim, especialmente se você usa uma garrafinha descartável que não foi feita para ser usada mais de uma vez. Em um artigo publicado no periódico Practical Gastroenterology, especialistas observaram que os produtores de água comercialmente engarrafada não recomendam a reutilização das garrafas descartáveis. Isso porque "o desgaste cotidiano provocado pela reutilização e as lavagens repetidas podem levar à deterioração física do plástico, com o surgimento de rachaduras e o afinamento visível do plástico. Bactérias podem alojar-se nas rachaduras, gerando riscos à saúde", eles escreveram. Além disso, "a reutilização de garrafas plásticas pode levar à contaminação bacteriana a não ser que as garrafas sejam lavadas regularmente", o que significa lavar com sabão suave, enxaguar bem (mas não com água muito quente) e certificar-se de que "não houve deterioração física antes de reutilizar a garrafa".

Mesmo as garrafas de água plásticas reutilizáveis podem encerrar riscos de contaminação bacteriana se você não as lavar ou se as reutilizar "apesar de sinais visuais de desgaste", segundo o artigo. "As bactérias que podem alojar-se nos riscos e fendas representam um risco maior à saúde que a possibilidade de substâncias passarem do plástico para a água durante o uso diário."

E as garrafas de água podem servir de refúgio perfeito para as bactérias. Em um estudo de 2002, publicado no Canadian Journal of Public Health, pesquisadores da Universidade de Calgary testaram 76 amostras de água de garrafas de água de alunos do ensino básico; algumas delas eram reutilizadas durante meses a fio sem jamais serem lavadas. Descobriram que quase dois terços das amostras apresentavam níveis bacterianos que passavam dos padrões, possivelmente "graças ao efeito do recrescimento de bactérias em garrafas que permaneceram em temperatura ambiente por um período prolongado".

Os cientistas não examinaram a fonte exata da contaminação, mas "a fonte mais provável das bactérias entéricas encontradas nas garrafas de água dos alunos está nas mãos dos próprios alunos", diz o estudo. "A lavagem inadequada de mãos após o uso do toalete pode resultar na presença de coliformes fecais nas salas de aula."

E as garrafas não lavadas funcionam como criadouro perfeito de bactérias, observa Cathy Ryan, uma das responsáveis pelo estudo e professora de geociências na Universidade de Calgary. Ela disse ao HuffPost que "as bactérias crescem quando as condições corretas existem", como umidade e a temperatura adequada. "Essas coisas estão presentes em garrafas não lavadas", ela diz.

Num ensaio mais casual (e sem revisão de pares), a emissora KLTV examinou níveis de bactérias em garrafas d’água usadas por uma semana sem serem lavadas. As culturas bacterianas foram tiradas do gargalo e boca das garrafas. Resultado: "Em todas as garrafas havia muitas bactérias do tipo que podem fazer você adoecer gravemente, quase como uma intoxicação alimentar", disse à emissora o médico Richard Wallace, do Centro de Saúde da Universidade do Texas. "Podem provocar náuseas, vômito, diarreia. Basicamente o pior vômito de sua vida."

Você deve estar pensando: "Sem problemas, vou colocar minha garrafa d’água na máquina de lavar louça, e pronto". Bem, "o impacto da lavagem manual ou não em água muito quente deve ser pequeno sobre a estrutura química da maioria dos plásticos que dizem ‘poder ser lavados na máquina’, mas as garrafinhas ditas descartáveis são feitas para ser usadas só uma vez e então descartadas, não reutilizadas", diz o professor de farmacologia Scott Belcher, da Universidade de Cincinatti, que pesquisou a liberação de bisfenol A (BPA), que causa perturbação endócrina, de diferentes tipos de garrafas de água. "O aquecimento certamente vai elevar a migração de substâncias químicas do plástico", ele diz.

É claro que não estamos dizendo que você jamais deve reutilizar uma garrafa de água (afinal, só temos um planeta Terra e precisamos cuidar bem dele). Mas, observa Belcher, você pode pensar melhor sobre o tipo de garrafa de água que você compra e reutiliza. Ele recomenda garrafas de vidro com estruturas protetoras e garrafas de aço inoxidável. "Se você quiser uma garrafa de plástico, recomendo uma feita de polipropileno, geralmente um plástico branco", ele disse ao HuffPost. "Essas são as garrafas de plástico não reativo do tipo que frequentemente usamos no laboratório." Mas ele ressalva que não é possível saber que plastificadores ou outros aditivos podem ter sido usados no processo de manufatura. E, mesmo que você opte por uma garrafa de um desses tipos, lembre que ainda é importante mantê-la limpa para minimizar a contaminação bacteriana (lavando-a e deixando-a secar antes de reutilizá-la).
 
Fonte: Envolverde

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Caminho do futuro nas novas energias

 

por Washington Novaes*
Como será o Brasil se puder consumir a energia elétrica no mesmo local em que a produzir? Que economias fará? Que benefícios levará para a agricultura familiar, incluída a geração de renda? Que desperdícios eliminará?
Foram esses alguns dos temas discutidos há poucos dias num seminário em Itaipu, do qual participaram até mesmo representantes de vários países latino-americanos e de instituições como a ONU – por meio também da Food and Agriculture Organization (FAO) -, a Agência Internacional de Energia, o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura, além de órgãos de governo brasileiros. Ao final, vários grupos de trabalho sugeriram caminhos para ampliar esse modelo de microgeração e consumo localizados, a partir de biogás produzido com dejetos de animais, que já está sendo implantado com êxito em algumas dezenas de propriedades rurais do Paraná e até do Uruguai. O modelo também já está em discussão com países africanos.
Trata-se, na verdade, de um “ovo de Colombo”, como já foi qualificado neste mesmo espaço alguns meses atrás. O projeto permite que o pequeno proprietário rural acumule os dejetos animais (contribuindo com solução também para o lixo rural), com eles gere biogás (dando solução para o gás metano) e, por meio desse biogás, produza a energia elétrica que consumirá ali mesmo. Deixa de pagar conta de energia e, se houver excedente, ainda poderá vendê-lo às distribuidoras, aumentando a sua renda. Dispensa a construção das caras e desperdiçadoras linhas de transmissão. Beneficia a agricultura familiar – no Brasil, 37% dos empregos, 33% do produto interno bruto (PIB) nacional, 42% das exportações – e permite ainda evitar desperdícios (no mundo todo, mais de 1 bilhão de toneladas anuais de alimentos).
“É um projeto que mudará a economia no mundo”, disse, enfaticamente, Minoru Takada, representante do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon – que, por sua vez, já dissera em outro evento que “energia é a mina de ouro, sem ela nada mudará”. Hoje ainda há no mundo mais de 1 bilhão de pessoas que não dispõem de energia (600 milhões somente na Índia), grande parte delas cozinhando com energia gerada pelo carvão (altamente poluidor).
Não bastasse, essa microgeração com consumo no local poderá contribuir decisivamente para que o Brasil venha a dobrar a sua produção de energia até 2050. E o faça com energias renováveis, como é desejável. Da mesma forma, contribuirá para reduzir as nossas emissões de poluentes que contribuem para mudanças climáticas – já somos o quinto país que mais as produz.
Não será fácil, entretanto, a caminhada, como mostraram no seminário as exposições dos vários representantes latino-americanos e caribenhos. Como será, por exemplo, o quadro institucional em que isso poderá ocorrer? Com que leis e órgãos ou instituições? Com que conhecimentos e suas tecnologias, que precisarão ser difundidas? Quais serão as parcerias, inclusive entre países? E as políticas de crédito? Como será a geração de biomassas para produzir o biogás? De que fontes, além de dejetos? Qual a escala de produção?
Não se trata apenas de instalar biodigestores – o processo é mais amplo, embora dispense megaprojetos.
Os avanços na chamada área ambiental também poderão ser consideráveis, com os estímulos ao uso de dejetos, com a criação de mercado para biofertilizantes, com programas adequados para recursos hídricos, com a capacitação de agricultores familiares. Além disso, será possível criar um marco legal para a geração de biogás e energia, com políticas de crédito diferenciadas. A cooperação internacional com a África e a Ásia (principalmente a Índia) pode levar as questões para um modelo de colaboração mútua, e não apenas de competição.
Muitas possibilidades, portanto. E as discussões ocorreram no momento em que se anunciava para o Brasil o primeiro leilão de projetos de geração de energia solar, que já se aproxima do nível de competição em custos com outros formatos, tal como aconteceu com a energia eólica (pena que nesta última ainda faltem linhas de transmissão para projetos instalados, principalmente no Nordeste – tarefa que cabia não a produtores, mas a órgãos federais; e essa geração permitiria ainda economizar água hoje utilizada por hidrelétricas ou a cara energia derivada do carvão).
Também ali, no seminário, se mencionou que o Brasil passará a produzir, em outro projeto de Itaipu, associado a uma empresa de tecnologia, placas para geração de energia fotovoltaica. Hoje exportamos o minério e importamos as placas, que custam cerca de seis vezes mais.
Relatório da Agência Internacional de Energia lembra que não estamos no caminho adequado para cumprir, no mundo, a meta de limitar o aumento da temperatura planetária a 2 graus Celsius. As emissões de poluentes já nos levaram a superar – pela primeira vez em milhares de anos – a concentração desses poluentes na atmosfera a 400 partes por milhão. Podemos, por isso, esperar mais “eventos extremos”, maior elevação do nível dos oceanos, temperaturas mais altas, entre 3,6 e 5,3 graus Celsius.
Mas o objetivo de promover mudanças radicais “é factível”, dizem esse e outros relatórios internacionais. Para isso, contudo, é preciso agir com vigor antes de 2020, principalmente na área de energia, em que estão dois terços das emissões de poluentes. E, nessa área, vêm de “fontes fósseis” (carvão mineral, gás natural, petróleo) 80% do consumo, que ainda é subsidiado em mais de US$ 800 bilhões anuais.
Até 2020 será preciso investir US$ 1,5 trilhão. E, depois, mais US$ 5 trilhões.
No Brasil, o potencial da energia solar, se captada em 5% da área urbanizada (ou 0,01% da área total do País), seria de atender a 10% da demanda; na eólica, o potencial inexplorado é de 300 gigawatts, quase três vezes mais que a geração total de hoje. E projetos como o da geração e consumo local poderão ter um papel decisivo nesse quadro das renováveis.

* Washington Novaes é jornalista.
** Publicado originalmente no site O Estado de S. Paulo.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

O engenheiro oculto


As obras do tatu-canastra mudam a paisagem do Pantanal, mas o mamífero nunca era visto em ação – até ser flagrado por armadilhas fotográficas
    
 
Kevin Schafer
 
Poucos animais escapam aos olhos de um peão pantaneiro. Esteja a pé, a cavalo ou na carroceria de um veículo 4x4, quem cresceu no Pantanal Mato-Grossense e vive na lida do gado está acostumado a focar pequenos movimentos na vegetação e identificar a espécie – antes mesmo de qualquer turista perceber a presença do bicho.

Apesar dessa habilidade, nenhum trabalhador da Fazenda Baía das Pedras, no município de Aquidauana, Mato Grosso do Sul, sabia que na região viviam pelo menos 14 tatus-canastra (Priodontes maximus), todos eles bem ativos. Alguns peões até acreditavam que ele estivesse extinto na região, pois ouviam histórias de caça de seus pais e avós, mas jamais toparam com um desses gigantes de armaduras. Nem mesmo durante as comitivas, quando conduzem o gado para leilão e pernoitam a céu aberto. É algo surpreendente – registros do tatu-canastra no Brasil mencionam espécimes de até 1,5 metro de comprimento, 60 centímetros de altura e 60 quilos. As garras dianteiras, em forma de foice, podem ter 20 centímetros de comprimento.

Apesar do comportamento esquivo da espécie, uma alteração na paisagem sempre intrigou os pantaneiros: os buracos, que surgem por toda parte. Foi preciso que o zoólogo francês Arnaud Desbiez identificasse seus construtores para os peões perceberem como estavam cercados de sinais da presença do grandalhão. Nenhum dos outros tatus é capaz de cavar túneis com 5 metros de extensão e 35 centímetros de diâmetro.

Desde julho de 2010, Arnaud mantém uma rotina trabalhosa de pesquisa em uma área de 20 mil hectares, ao lado dos veterinários brasileiros Danilo Kluyber e Renata Santos e do biólogo Gabriel Massocato, com diversos colaboradores eventuais e apoio da Sociedade Real Zoológica da Escócia e do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), do Brasil. Apesar de o tatu-canastra ocorrer em toda a América do Sul e estar classificado como vulnerável na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês), faltavam informações importantes sobre a espécie. Pouco se sabia, por exemplo, a respeito de seleção e uso de hábitat, tamanho do território, reprodução, se há sobreposição dos espaços ocupados por indivíduos ou qual o parentesco entre os exemplares de cada região.

O âmbito de ocorrência de cada tatu pode variar muito – entre 5 e 35 quilômetros quadrados. A expectativa dos especialistas, ao preencher tais lacunas de conhecimento, é propor um plano de ação para a conservação da espécie a partir de 2015. Por enquanto, a equipe de Arnaud se concentra no monitoramento. Ela precisou desenvolver uma armadilha leve, porém firme, forte e grande o suficiente para pegar o tatu-canastra à saída da toca sem machucá-lo. Também foi necessário inventar um meio de colocar um radiotransmissor na carapaça, pois tatus não têm pescoço para receber uma coleira com rádio.


Quando capturam um tatu, os pesquisadores verificam peso e medidas e coletam amostras de pele, sangue, fungos e parasitas (como carrapatos) para avaliar seu estado de saúde e fazer exames de DNA. Em seguida, o animal recebe o transmissor e é solto. Daí começa o jogo de paciência, muita paciência. Com uma antena na mesma frequência do aparelhinho fixado em cada animal, a equipe de Arnaud passa noites e noites mapeando os movimentos do bicho à base de bips mais fortes ou mais fracos e das coordenadas geográficas fornecidas pelo equipamento, com poucas chances de fazer observações diretas.

Arisco e desconfiado, o tatu-canastra habita de florestas fechadas a campos de Cerrado bem abertos, mas permanece 75% do seu tempo debaixo da terra. Às vezes, passa vários dias sem deixar o buraco. Ou espia só um pouquinho e volta correndo ao farejar algo estranho. De repente, resolve sair para se alimentar, detona um cupinzeiro enorme e muda de toca, andando mais de 6 quilômetros em uma noite só, mais de 20 quilômetros em uma única semana, obrigando os cientistas a varar a vegetação cerrada e recorrer ao GPS para achar o caminho de volta.

A equipe, contudo, conta com a ajuda das armadilhas fotográficas: 15 câmeras de foto e duas de vídeo dotadas de sensores de movimento. Posicionadas em buracos, elas revelam informações preciosas sobre o comportamento do gigante tímido - conseguiram até mesmo flagrar a primeira voltinha ao ar livre de dois filhotes da mesma fêmea. O primeiro nasceu em novembro de 2012, mas não resistiu por muito tempo.

Graças a esses registros, agora se sabe que a gestação dura cinco meses e as primeiras saídas do pequeno desacompanhado só ocorrem com 6 meses de vida, quando sua dieta começa a variar, embora ainda inclua o leite materno. Também é possível ver seu processo de aprendizado - sempre supervisionado de perto pela mãe - na troca de tocas e no reconhecimento de cheiros, um detalhe fundamental para a sobrevivência, pois o olfato é o melhor sentido dos tatus.

As câmeras-armadilhas fazem o impremeditado papel de "paparazzi" da vida selvagem: quando mantidas durante 40 dias no mesmo local, registram usos e usuários das tocas até agora desconhecidos pela ciência. "Estudamos os registros de 60 espécies, flagradas por mais de 4 mil sequências de imagens de nossas câmeras. Pelo menos 24 dessas criaturas - entre aves, répteis e mamíferos - são beneficiadas pelas alterações de hábitat promovidas pelo canastra. Isso nos permite classificar esse tatu como um engenheiro do ecossistema, ou seja, um animal capaz de transformar o ambiente e, com isso, influenciar os hábitos de outras espécies", explica Arnaud Desbiez. "Alguns bichos usam os buracos abandonados pelo tatu como abrigo, outros para descansar durante as horas mais quentes do dia e outros ainda para buscar alimento e caçar presas." Os pesquisadores agora investigam o papel das tocas na disseminação de doenças e parasitas.

No Pantanal, os tatus-canastra fazem três tipos de escavações: abrem cupinzeiros e cavam buracos rasos (até 1 metro de profundidade) para se alimentar, fazem tocas de descanso para usar apenas uma noite (de 1,5 metro) e profundas (de 5 metros) para permanecer por mais dias e ter para onde voltar eventualmente. Um adulto cava, em média, um novo buraco a cada dois dias. A exceção são as fêmeas prenhes ou com filhote pequeno, que ficam mais de 20 dias na mesma toca.

O ambiente preferido para as escavações são os murundus, pequenas porções elevadas de solo arenoso, sobre as quais cresce a vegetação de Cerrado. Os murundus escolhidos para tocas geralmente têm um ou dois cupinzeiros. Os pesquisadores acreditam que o canastra pode alcançar e se alimentar dos cupins vizinhos mesmo quando permanece dentro de sua toca.

Na obra da toca, os tatus removem uma boa quantidade de areia para fora do buraco, criando um ambiente propício, por exemplo, para o "banho" de tamanduás ou para a sesta de famílias inteiras de queixadas e catetos, além das solitárias antas e onças-pardas. Mais: toda a areia revolvida expõe insetos e sementes, atrás dos quais vêm aves, répteis e pequenos mamíferos, que, por sua vez, são presas de cachorros-do-mato, iraras e felinos. Ou seja, o ambiente modificado pelo tatu serve também para a alimentação.

Em seu interior, as tocas são espaçosas e frescas, com a temperatura em torno de 24 oC. Vários outros bichos, de ratinhos a jaguatiricas, buscam esse conforto térmico para escapar do calor ou do frio. Até mesmo outras espécies de tatus - como o galinha, o peba e o rabo-mole - são ocupantes temporários. Para os pesquisadores, esse uso pode servir para a adaptação e a sobrevivência dos diversos inquilinos a eventos extremos, associados às mudanças climáticas.

Uma verdadeira comunidade se movimenta ao redor e dentro dos buracos do tatu-canastra, cada espécie por um motivo diferente e com uma maneira particular de aproveitar o ambiente alterado. Quanto ao engenheiro responsável pela obra, ele segue sua rotina de trabalho noturno, indiferente às melhorias que espalha em seu caminho. Discretamente, como gosta.
No Pantanal, Arnaud Desbiez e Danilo Kluyber soltam um tatu-canastra após pesar, medir e tirar amostras de sangue. Nenhum outro tatu é capaz de cavar túneis de 35 centímetros de diâmetro e até 5 metros de comprimento - antes de sair, o bicho investiga com o olfato apurado.
Apesar da falta de informações atualizadas sobre sua distribuição geográfica, a espécie pode ser encontrada desde a Venezuela até o norte da Argentina, incluindo boa parte do território brasileiro


TERRA DE TATU

As dez espécies brasileiras descendem de um ancestral já extinto, o gliptodonte. Uma maneira de distinguir tatus do mesmo gênero é pelo número de “cintas” no meio da carapaça - o número consta do nome científico de alguns. Entre as espécies atuais, o canastra é o maior tatu do mundo.



OS VISITANTES
Alguns predadores se aproximam da toca do tatu-canastra à procura de presas e são flagrados pela câmera-armadilha. As presas se refugiam atrás de abrigo. Antas, catetos e famílias de queixadas só querem sombra e areia fresca para um cochilo. Aves pousam em busca de comida. Só o dono não está: deixou a toca para os visitantes. Veja as imagens na galeria Os visitantes da toca do tatu-canastra
Fonte: Liana John
National Geographic Brasil
 


 

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Parque Ibirapuera faz 60 anos com festa, em SP

Alex Estevão/Creative Commons

 
Os paulistanos têm um carinho todo especial por ele. E muito orgulho. Na cidade que nunca para e tem gigantes espigões cortando seu horizonte, o imenso espaço verde do Parque Ibirapuera, no bairro que também leva seu nome, se tornou querido no coração das pessoas.

Ele é um espaço de conforto, relaxamento e lazer que o morador da cidade precisa e ali encontra. Este foi o lugar onde muitos paulistaninhos aprenderam a andar de bicicleta, casais trocaram aquele inesquecível beijo ou corredores começaram a dar as primeiras passadas em prol de uma vida mais saudável.

Para celebrar este espaço público tão especial e essencial da capital paulista, que completa em agosto 60 anos, uma grande e diversificada programação gratuita será realizada para levar ainda mais gente ao Parque Ibirapuera.

O lançamento oficial da festa ‘#Ibira60anos’ acontece no sábado, 16/08, com show de abertura do Bourbon Street Fest*, na Arena de Eventos. Os eventos vão até 31/08, integrando o encerramento da 4ª edição da Virada Sustentável e o 4º Festival de Filmes Outdoor Rocky Spirit. Ambos também serão realizados no Ibirapuera.

O auge da programação será em 23/08 – já que a data de nascimento do Ibirapuera, sua fundação, foi em 21 de agosto de 1954. Neste dia será realizado um grande festival, que contará com exibição de filmes, pockets shows, apresentação de artistas de ruas, concurso de karaokê, oficinas, palestras, entre outras tantas atrações.

O Parque Ibirapuera, presente ao 4º centenário da cidade de São Paulo, foi inspirado no Hyde Park, de Londres, e no Central Park, de Nova York. O projeto arquitetônico e paisagístico do local foi concebido pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Semanalmente, cerca de 220 mil visitantes passam por ele - considerado pelo site Trip Advisor, o melhor parque da América Latina e 8º melhor do mundo.

Todas as grandes cidades do mundo já perceberam a importância e a necessidade da inserção de parques e áreas verdes para a sustentabilidade dos centros urbanos. Em 2013, a edição do Planeta no Parque, que teve como tema O caminho das águas, foi realizada no Parque Ibirapuera e obteve um enorme sucesso.

Então, não deixe de fazer parte desta grande celebração ‘#Ibira60anos’. Confira a programação completa no site da Prefeitura.

#Ibira60anos
Local: Parque Ibirapuera
Dias: 16 a 31/08
Programação gratuita de atividades
Fonte: Planeta Sustentável -
Suzana Camargo - Planeta Sustentável

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

8 ações para tornar a rotina mais sustentável

Vivemos uma época de profundas transformações ambientais. É necessário rever hábitos e, de alguma forma, agir. Especialistas lembram atitudes simples que dão resultado.

nattu/Creative Commons
 
Só seremos mais sustentáveis quando deixarmos o peso do termo de lado e fizermos de nossa preocupação uma ação orgânica, rotineira. É isso que defende a escocesa Sara Parkin, diretora da ONG inglesa Forum for the Future e autora do recém-lançado O Divergente Positivo (Peirópolis, com apoio do Planeta Sustentável).

 
A ativista esteve em São Paulo em março para conhecer projetos regionais na área. A questão do meio ambiente, segundo ela, já está entre as maiores preocupações do brasileiro. De acordo com relatório elaborado pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas em 2013, 90% dos brasileiros reconhecem que o problema é grave e 85% admitem que a culpa é da atividade humana.

Nos últimos anos, secas, alagamentos, plantações arrasadas e outras mudanças têm deixado claro que é preciso fazer algo antes que seja tarde demais. "Adotar atitudes sustentáveis tem muito a ver com a nossa capacidade de resiliência: nos transformamos e nos adaptamos depois de choques que exigem mudanças", explica a geógrafa Denise Kronemberger, coautora do livro Desenvolvimento Local Sustentável - Uma Abordagem Prática (Senac), e coordenadora da produção de indicadores de desenvolvimento sustentável no IBGE, critérios que medem a evolução dos assuntos relacionados ao meio ambiente no Brasil, como diminuição de área verde ou acesso ao saneamento básico. Sabe-se que o tom chato e distante que os temas verdes ganharam dificulta transformações na área. Porém, há muito que você pode fazer.


1. QUESTIONE AS SUAS ATITUDES
O que significa sucesso para você? Para a maioria da população, a resposta é morar em uma casa grande, poder viajar sempre e ter um salário gordo. "Vivemos a lógica da competição: queremos ser melhores do que nossos vizinhos e familiares", explica Sara. Não há nada de errado em buscar uma vida confortável, como ela ressalta, mas não devemos nos basear nesses critérios para definir se levamos uma trajetória satisfatória e feliz. Mais importante é ter experiências gratificantes no dia a dia, saúde, bons amigos e momentos de diversão.

Denise lembra do conceito de Felicidade Interna Bruta, uma analogia ao Produto Interno Bruto (PIB), que mede o progresso do país não só pelo dinheiro gerado mas também pela relação da nação com o meio ambiente e pela qualidade de vida da população. "São essas as coisas que devemos buscar", defende a geógrafa. Com esses conceitos na cabeça, é necessário questionar diariamente as suas ações e motivações. O que você busca no trabalho? Como fortalece suas amizades? O que faz para contribuir com um desenvolvimento sustentável? Use essas respostas como guia na hora de tomar decisões.

2. NÃO ESQUEÇA DO BÁSICO
Com uma situação tão alarmante, às vezes achamos que é inútil nos comprometer com as pequenas atitudes, como diminuir o tempo do banho ou levar sacolas reutilizáveis ao supermercado. "A verdade é que, neste momento, tudo conta", explica Sara. Vale, então, aquele esforço para usar ao máximo o transporte público e economizar na conta de luz tirando da tomada tudo que não estiver usando durante o dia, como televisores, micro-ondas, fogão e computadores.

A reciclagem do lixo também ajuda, assim como evitar o desperdício de comida. "Em média, jogamos fora 40% dos alimentos que compramos para casa", afirma a autora. Em tempos de embalagens tamanho família, ela sugere uma abordagem nova e que pode dar certo. Recomenda que, na hora de comprar produtos que só sejam vendidos em grandes quantidades, você os divida com amigos ou vizinhos. É a chamada compra colaborativa. Se o saco contém dez maçãs, você paga por cinco e alguém paga a outra metade - assim nada vai para o lixo. Parece difícil, mas pode ser muito prático, principalmente para quem mora sozinho.


3. CONTROLE O CONSUMO
Que vivemos em uma sociedade que estimula o consumo, já sabemos. O que alguns não imaginam, porém, é o enorme impacto disso no ambiente. Um processo de produção gera poluição, pode levar a mudanças climáticas e ao aquecimento dos oceanos, além de afetar a fauna e a flora. "A lógica da compra pouco consciente vai se tornar insustentável em um futuro próximo. Cabe a cada um de nós mudar essa mentalidade", diz Denise.

Não é preciso eliminar o consumo, mas transformá-lo. Por exemplo, em vez de comprar roupas para ter prazer, combine com amigos uma ida ao parque. O mesmo acontece com outras iniciativas culturais, como feiras, mostras de arte ou um piquenique. A própria economia vai se adaptar a esse processo, pois o parque precisará de mais funcionários, de serviços novos, o que fará o dinheiro circular. Também devemos tornar mais orgânica a ideia de reutilizar e restaurar. Se um móvel quebrou, antes de jogá-lo fora e comprar outro, pense se não há uma forma de recuperá-lo, evitando assim mais lixo e produção. Há até sites que possibilitam trocas de objetos e roupas pouco usados com outras pessoas em vez de jogá-los no lixo.

4. ORGANIZE MOVIMENTOS LOCAIS
"Há uma tendência forte em todo o mundo de valorização de iniciativas locais", conta Denise. "Organizamos dentro de comunidades menores, como bairros, projetos eficientes para aquela região, colocados em prática com a ajuda dos moradores." Nesses reduzidos grupos surgem ideias inovadoras que, depois, podem ser aproveitadas em maior escala pela cidade. "Há grandes empresas - e também órgãos governamentais - querendo investir em boas ideias que aparecem nesses ambientes", explica Sara. "Vi poucos painéis solares no Brasil, e sei que o motivo disso é o alto preço do sistema, mas, se um bairro quisesse fazer um projeto, poderia conseguir apoio de uma empresa para baratear o produto, por exemplo".

Vimos no ano passado o aumento significativo de iniciativas do gênero, como as hortas comunitárias. Os pequenos grupos e até mesmo pequenas empresas são a grande promessa do futuro, segundo os especialistas. Eles serão as fontes de ideias criativas que vão nos levar a uma economia verde mais facilmente. Com o tempo, até mesmo as grandes empresas devem adotar essas estratégias.

5. ENSINE E DÊ O EXEMPLO
"O desenvolvimento sustentável tem um funcionamento semelhante ao da natureza: em rede. interdependência entre todos os fatores e membros que fazem parte do ciclo", explica Denise. Portanto, quanto mais gente trabalhando nesse sentido, melhor para nós e para o planeta. Para tal, pais precisam prestar atenção nos filhos. O que as crianças estão aprendendo na escola? Quanto mais cedo a noção de sustentabilidade for inserida, mais natural ela se tornará, assumindo um papel forte com o passar das gerações.

Sabemos que, nas faculdades, o tema é praticamente inexistente. "Alunos de administração, por exemplo, deveriam aprender a inserir o desenvolvimento sustentável na gestão, assim, ela seria instintiva para eles quando passassem a exercer cargos de chefia", diz Sara. É importante também que a criança participe de atividades do gênero em casa. Ela deve ajudar a lavar embalagens para reciclagem ou controlar sozinha o tempo no banho. Os pais também podem pedir que ela escolha brinquedos e roupas para doação e não estimular o consumo exagerado. Tudo isso gera comportamentos mais saudáveis para a sociedade e o meio ambiente.

6. PRESSIONE EMPRESAS
Já que o consumo rege a nossa sociedade, ele também vira poder de barganha. Você pode escolher se relacionar apenas com empresas que demonstrem preocupação ambiental. Por exemplo, o supermercado que você frequenta dá aos funcionários salários e benefícios adequados? Compra os produtos, como carne e vegetais, de origens certificadas que não prejudicam o meio ambiente? Tem um plano de pouco impacto no meio ambiente como uso de iluminação natural para evitar o consumo excessivo de energia elétrica? Há diversas maneiras de descobrir isso. A mais óbvia é perguntar ao gerente ou conversar com os funcionários.

Mas, além disso, você pode verificar se a empresa tem selos oficiais de sustentabilidade ou pesquisar relatórios recentes com os dados que tratem do assunto. "Também é possível fazer pressão para conseguir atitudes mais impactantes", explica Sara. Ela cita um exemplo pessoal: quando vai ao mercado, retira ainda no caixa todos os produtos de suas embalagens recicláveis. "O supermercado paga para retirar o lixo; portanto, quanto mais, pior. Com essa atitude, ele vai passar a se preocupar em ter nas prateleiras produtos que causem menos desperdício".

7. COBRE ATITUDES GOVERNANENTAIS
Às vezes, dependemos de aprovação oficial para conquistar o que queremos, como a limpeza de um rio ou a melhoria do transporte público. Seja qual for a exigência, é importante estar a par dos esforços do governo nas diversas áreas de desenvolvimento. Um contato mais próximo com os governantes - feito por meio de figuras influentes ou ONGs - gera bons resultados. "Pergunte por que o governo não apoia certo projeto ou leve até o conhecimento dele uma iniciativa promissora e peça ajuda", explica Sara.

Muitas vezes, o distanciamento criado entre os governantes e o povo é o responsável por impedir que bons trabalhos sejam realizados. O mesmo pensamento serve para a hora de votar. Pesquise no projeto do seu candidato quais os planos dele por um futuro mais sustentável, pois essa deve ser uma preocupação constante da máquina pública atualmente. Pode ser desde a criação de um parque até a implementação de um processo mais eficiente de recolhimento e reciclagem de lixo. E, caso ele seja eleito, cobre a realização das promessas.

8. FAÇA SEU MELHOR
É verdade: às vezes, dá preguiça ser sustentável, pois parece um esforço a mais em uma rotina já corrida. É por isso que Sara defende a ideia de fazer o suficiente, sem grandes cobranças. Se você tiver uma apresentação importante no trabalho, por exemplo, e quiser pegar um táxi em vez de recorrer ao transporte público que usa todo dia, precisa se permitir. O policiamento pessoal muito rígido vira uma coisa chata e nos leva a desistir mais facilmente. Portanto, respeite a sua vontade em algumas escapadas, cuidando apenas para que não se tornem tão comuns a ponto de virar o comportamento normal.

Pense também que, às vezes, mesmo que estejamos sem vontade de contribuir, há coisas significativas que não exigem muito trabalho. "A internet é uma ferramenta poderosa para ajudar no desenvolvimento sustentável hoje", afirma Sara. Principalmente os jovens, que estão conectados o dia todo, podem usar as redes para divulgar bons projetos, iniciativas e empresas que fazem trabalhos legais. Assim, outras pessoas se sentirão estimuladas a buscar esses serviços.
Fonte: Planeta Sustentável-
Isabella D'Ercole
Claudia - 05/2014