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domingo, 21 de junho de 2015

Virtuosidades da agricultura familiar


A participação da agricultura familiar continuará crescendo na produção dos dez principais alimentos que vão à mesa do brasileiro, como feijão, arroz, milho, leite e mandioca. Esta é uma das constatações do estudo ‘Análise e Planejamento Territorial – Projeções e Estratégias para a Agricultura Familiar Brasileira’*, desenvolvido pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead/MDA) e publicado em 03 de junho.

 Este documento servirá para orientar políticas públicas no campo, pois, segundo a ministra interina do Desenvolvimento Agrário (MDA), Maria Fernanda Coelho, “é possível perceber nas variadas culturas, como o feijão, a mandioca, o leite e o milho, o potencial de crescimento, mas também os riscos no caso da não implementação de políticas adequadas para que possibilite aos agricultores familiares aumentarem a produtividade”.


*Metodologia: O estudo utilizou dados do Censo Agropecuário de 1996 e 2006, dados do Censo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de 2011 e levou em conta quatro fatores, como dinâmica municipal da agricultura, o desenvolvimento econômico da população, a aptidão agrícola e o interesse ambiental.


A publicação “Análise territorial e políticas para o desenvolvimento agrário”, que gerou o estudo em questão, está disponível para download gratuito na página do Nead.


Essa notícia nos remeteu ao texto escrito por Jan Douwe van der Ploeg, em 2014, ano definido pela FAO como Ano Internacional da Agricultura Familiar. Para o professor de sociologia rural na Universidade de Wageningen/Holanda, a agricultura familiar é um sistema de difícil compreensão para os tempos atuais. Tal complexidade deve-se, entre outros fatores, a sua contraposição aos modelos burocráticos e à lógica industrial dominantes na sociedade, bem como às possibilidades de empoderamento que o modelo carrega consigo. A agricultura familiar, portanto, não pode ser vista apenas pelas duas características mais comumente a ela associadas: a) a família sendo a proprietária da terra e b) o trabalho realizado pelos seus membros.


O professor organizou uma lista de qualidades da agricultura familiar. Sintetizamos os 10 itens pontuados pelo autor e acrescentamos mais dois, a partir do mesmo conteúdo.


12 qualidades da agricultura familiar




1) A agricultura familiar tem o controle sobre os recursos que utiliza. Isso inclui a terra, as culturas, as construções e os maquinários, o conhecimento, o acesso aos mercados.


2) O estabelecimento familiar é onde a família investe a maior parte de sua força de trabalho, o que o torna um lugar de autoemprego e de progresso para a família.


3) Esse nexo entre família e estabelecimento é central nas decisões relacionadas ao desenvolvimento do próprio estabelecimento. Há, portanto, um conhecimento rico quando cada unidade produtiva possui necessidades específicas para estabelecer o equilíbrio entre demanda e mão de obra.


4) Controle sobre a qualidade dos alimentos que proporciona renda e sobrevivência alimentar para a família.


5) A unidade produtiva é um espaço de pertencimento. Um lugar onde a família vive e as crianças crescem.


6) A agricultura familiar é parte de um fluxo que une passado, presente e futuro. Isso significa um espaço repleto de memórias e de sentimento de origem. Ao implicar um espaço de narrativas, sejam das dificuldades ou das superações, o estabelecimento familiar se torna, normalmente, fonte de orgulho.


7) O estabelecimento familiar é o local onde experiências são acumuladas. O aprendizado tem lugar e o conhecimento é transmitido.


8) Integra uma comunidade rural, com redes de relacionamento que vivenciam e preservam essa cultura.


9) Está vinculada à localidade e é portadora dos códigos culturais da comunidade à qual pertence – fortalecendo um circuito econômico local, pois é na comunidade que majoritariamente a família gasta e participa de variadas atividades econômicas.



10) Faz parte da paisagem rural. Quando a agricultura familiar trabalha em parceria com a natureza, ela contribui localmente para a preservação da biodiversidade e para a luta contra as mudanças climáticas globais.


11) A unidade produtiva familiar potencializa a noção de autonomia produtiva, pois o estabelecimento familiar busca alcançar uma dupla liberdade: estar livre de relações de exploração exercidas por agentes externos e estar livre para fazer as coisas a sua maneira.


12) Representa a unificação entre trabalho manual e atividade mental.

Fonte: Teia Orgânica

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