A taxa atual de extinção das espécies é mil vezes maior do que a taxa natural. Essa é uma das principais conclusões do artigo publicado recentemente na revista Science, fruto de pesquisa feita por nove cientistas. Um deles é Clinton Jenkins, doutorado em ecologia pela Universidade de Tennessee. Contemplado com bolsa do Capes pelo programa Ciência Sem Fronteiras, Jenkis está morando no Brasil como professor convidado do Ipê - Instituto de Pesquisas Ecológicas*, organização brasileira que atua na conservação da biodiversidade. Sobre esse trabalho, Jenkins falou com exclusividade para o Planeta Sustentável.
Do que trata esse estudo publicado na Science?
É um resumo de pesquisas sobre biodiversidade dos últimos dez anos feitas por vários pesquisadores. Com ele, criamos um mapa da biodiversidade mostrando as taxas de extinção, a incidência e os riscos de vários grupos — como aves, mamíferos, anfíbios, peixes e plantas.
Também constatamos que, hoje, a taxa de extinção de espécies é mil vezes maior que a taxa natural. A natureza promove uma extinção entre 0,1 e 1 espécie por milhão de espécies por ano. Ou seja, num universo de um milhão de espécies, apenas uma espécie, no máximo, será extinta a cada ano. Mas hoje, neste mesmo universo, está ocorrendo a extinção de mil espécies por ano.
Quantas espécies existem no planeta?A gente tem uma ideia, mas não sabe exatamente quantas são — cinco, dez, vinte milhões... Mas é verdade que temos um número mais aproximado de alguns grupos. Aves, por exemplo, são cerca de dez mil espécies. Mas os insetos podem ter milhões de espécies. Por isso, quando falamos de extinção temos que usar essas medidas relativas.
Qual é a causa desse aumento de extinção?É a ação do homem. Quinze anos atrás foram feitas pesquisas que apontavam uma taxa de extinção cem vezes maior do que a natural. Na maioria dos casos, a queda da biodiversidade é causada pela perda de habitat, o desflorestamento, para dar lugar a cidades e a áreas cultiváveis. Também contribuem a introdução de espécies exóticas, que competem com as naturais, e a prática da caça pelo homem.
Quais as espécies mais ameaçadas?A dos anfíbios. Esse grupo está passando por um grande problema, uma doença. Na verdade é um fungo que está dizimando os anfíbios, conhecido como BD (Batrachochytrium dendrobatidis). Ninguém entende exatamente como esse fungo funciona e há vários cientistas pesquisando possibilidades de controlá-lo. É um fato novo que provavelmente tem conexão com a humanidade, mas ninguém sabe exatamente porque esse problema surgiu agora.
Quais são as regiões mais vulneráveis?As regiões tropicais, em geral, são as mais vulneráveis porque possuem mais diversidade biológica. As grandes prioridades hoje são os Andes Tropicais, a ilha de Madagascar, algumas regiões do sudeste da Ásia como Indonésia, e a Mata Atlântica, no sul do Brasil.
Qual é o problema da Mata Atlântica?É uma das regiões que mais preocupam, porque lá provavelmente já foram extintas algumas espécies. Mas muitas delas podem ser salvas se fizermos um grande esforço, preservando as nascentes da floresta, restaurando algumas áreas e, muito importante, criando conexões entre as matas remanescentes. Há muita fragmentação, muitas florestas isoladas, e isso é muito ruim porque nas florestas isoladas as espécies vão gradualmente desaparecendo. É preciso eliminar esses corredores entre as áreas de florestas.
Qual foi o método empregado para fazer a pesquisa?Nós utilizamos ferramentas novas para abordar o problema. E hoje ainda há algumas ferramentas que permitem a colaboração pública. Ou seja, qualquer um pode monitorar a biodiversidade, tirar fotos de uma espécie e postar na internet para os pesquisadores identificarem. Dessa maneira, estamos criando um banco de dados com milhões de espécies. É quase um museu virtual. Nós usamos o site iNaturalist* para fazer nossa pesquisa, combinando dados sobre algumas espécies com distribuição restrita, ou seja, endêmicas, com dados sobre a distribuição das espécies em geral e, também, com as informações sobre áreas em que ocorrem desmatamentos. Desta forma, pudemos avaliar os riscos de cada espécie.
Quer dizer que hoje temos muito mais informações sobre biodiversidade?Sim. E sobre extinções também. Sabemos quais espécies estão em risco e quais partes do mundo são mais importantes. O monitoramento já não é mais um trabalho exclusivo de cientistas, mas de qualquer pessoa que tenha interesse. E monitorar é muito importante. O desmatamento da Amazônia foi reduzido em 70-80% nos últimos anos graças, em grande parte, ao monitoramento criado pelo governo.
Porque a biodiversidade é importante?Essa é uma boa pergunta. A importância depende do interesse de cada um, as pessoas têm motivos diferentes. Certamente, a biodiversidade tem valor para a medicina e a economia. Na verdade, ainda não conhecemos o valor, a importância da biodiversidade. Mas, sem dúvida, há um aspecto ético: estamos eliminando essa riqueza do mundo para as gerações futuras. Ninguém quer que, daqui a cem anos, nos acusem de termos eliminado essa preciosidade.
É um resumo de pesquisas sobre biodiversidade dos últimos dez anos feitas por vários pesquisadores. Com ele, criamos um mapa da biodiversidade mostrando as taxas de extinção, a incidência e os riscos de vários grupos — como aves, mamíferos, anfíbios, peixes e plantas.
Também constatamos que, hoje, a taxa de extinção de espécies é mil vezes maior que a taxa natural. A natureza promove uma extinção entre 0,1 e 1 espécie por milhão de espécies por ano. Ou seja, num universo de um milhão de espécies, apenas uma espécie, no máximo, será extinta a cada ano. Mas hoje, neste mesmo universo, está ocorrendo a extinção de mil espécies por ano.
Quantas espécies existem no planeta?A gente tem uma ideia, mas não sabe exatamente quantas são — cinco, dez, vinte milhões... Mas é verdade que temos um número mais aproximado de alguns grupos. Aves, por exemplo, são cerca de dez mil espécies. Mas os insetos podem ter milhões de espécies. Por isso, quando falamos de extinção temos que usar essas medidas relativas.
Qual é a causa desse aumento de extinção?É a ação do homem. Quinze anos atrás foram feitas pesquisas que apontavam uma taxa de extinção cem vezes maior do que a natural. Na maioria dos casos, a queda da biodiversidade é causada pela perda de habitat, o desflorestamento, para dar lugar a cidades e a áreas cultiváveis. Também contribuem a introdução de espécies exóticas, que competem com as naturais, e a prática da caça pelo homem.
Quais as espécies mais ameaçadas?A dos anfíbios. Esse grupo está passando por um grande problema, uma doença. Na verdade é um fungo que está dizimando os anfíbios, conhecido como BD (Batrachochytrium dendrobatidis). Ninguém entende exatamente como esse fungo funciona e há vários cientistas pesquisando possibilidades de controlá-lo. É um fato novo que provavelmente tem conexão com a humanidade, mas ninguém sabe exatamente porque esse problema surgiu agora.
Quais são as regiões mais vulneráveis?As regiões tropicais, em geral, são as mais vulneráveis porque possuem mais diversidade biológica. As grandes prioridades hoje são os Andes Tropicais, a ilha de Madagascar, algumas regiões do sudeste da Ásia como Indonésia, e a Mata Atlântica, no sul do Brasil.
Qual é o problema da Mata Atlântica?É uma das regiões que mais preocupam, porque lá provavelmente já foram extintas algumas espécies. Mas muitas delas podem ser salvas se fizermos um grande esforço, preservando as nascentes da floresta, restaurando algumas áreas e, muito importante, criando conexões entre as matas remanescentes. Há muita fragmentação, muitas florestas isoladas, e isso é muito ruim porque nas florestas isoladas as espécies vão gradualmente desaparecendo. É preciso eliminar esses corredores entre as áreas de florestas.
Qual foi o método empregado para fazer a pesquisa?Nós utilizamos ferramentas novas para abordar o problema. E hoje ainda há algumas ferramentas que permitem a colaboração pública. Ou seja, qualquer um pode monitorar a biodiversidade, tirar fotos de uma espécie e postar na internet para os pesquisadores identificarem. Dessa maneira, estamos criando um banco de dados com milhões de espécies. É quase um museu virtual. Nós usamos o site iNaturalist* para fazer nossa pesquisa, combinando dados sobre algumas espécies com distribuição restrita, ou seja, endêmicas, com dados sobre a distribuição das espécies em geral e, também, com as informações sobre áreas em que ocorrem desmatamentos. Desta forma, pudemos avaliar os riscos de cada espécie.
Quer dizer que hoje temos muito mais informações sobre biodiversidade?Sim. E sobre extinções também. Sabemos quais espécies estão em risco e quais partes do mundo são mais importantes. O monitoramento já não é mais um trabalho exclusivo de cientistas, mas de qualquer pessoa que tenha interesse. E monitorar é muito importante. O desmatamento da Amazônia foi reduzido em 70-80% nos últimos anos graças, em grande parte, ao monitoramento criado pelo governo.
Porque a biodiversidade é importante?Essa é uma boa pergunta. A importância depende do interesse de cada um, as pessoas têm motivos diferentes. Certamente, a biodiversidade tem valor para a medicina e a economia. Na verdade, ainda não conhecemos o valor, a importância da biodiversidade. Mas, sem dúvida, há um aspecto ético: estamos eliminando essa riqueza do mundo para as gerações futuras. Ninguém quer que, daqui a cem anos, nos acusem de termos eliminado essa preciosidade.
Fonte: Roberto Amado
Planeta Sustentável
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