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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Ética, amor e sustentabilidade: uma estrada de mão única

 

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Foto: Rodrigo Lorenzon
 
Professor de Ética da USP, Clóvis de Barros Filho, fala de filosofia e evolução de valores no Seminário Sebrae de Sustentabilidade
 
Cuiabá (MT) – Felicidade, amor, convivência, harmonia com o cosmos, estão relacionados com sustentabilidade e ética, segundo o professor da Universidade de São Paulo (USP), Clóvis de Barros Filho. Ele foi o último palestrante do primeiro dia do Seminário Sebrae de Sustentabilidade, que está sendo realizado no Centro de Eventos do Pantanal em Cuiabá (MT), até esta quinta-feira (31). Muito aplaudido, fez um resgate do significado da palavra ‘ética’, desde a definição aristotélica, passando por Jesus de Nazaré, Maquiavel e Kant, até os dias atuais, quando o conceito sustentabilidade norteia ou pretende nortear as ações e valores da sociedade e mercado.
“Nunca se falou tanto em ética como atualmente. Esta palavra antes era prerrogativa de filósofos”, disse o professor, que é mestre e doutor em Direito pela Escola de Paris e livre docente da USP. Aristóteles relacionava o conceito de ética com qualidade da vida, desfrutada pelo indivíduo que aproveitava e desenvolvia seus talentos, virtudes e potencialidades e assim se harmonizava com o cosmos e era feliz.
Já o Mestre Jesus de Nazaré ensinou à humanidade que ético era amar o próximo. A felicidade está na capacidade de fazer a alegria do outro, do amado. O amor vale mais do que a vida. Na ética cristã, o sentido do trabalho é melhorar a vida de alguém, antes de mais nada, não é bater metas, conquistar ganhos pessoais e conquistar mercado, segundo Clóvis.
“O acúmulo desenfreado de bens não aumenta a sua felicidade”, disse o professor, se referindo aos ensinamentos de Jesus. O bom da vida não é ser amado, mas amar, complementou.
Por volta do ano de 1600, Newton e Copérnico causam grande perturbação ao provar que o universo não é finito como supunha Aristóteles. O sistema solar é apenas um entre tantos outros. Surge uma nova ética: a de Maquiavel, também conhecida como a ética de resultados. Para ele, conduta boa é aquela que permite bater metas, atingir os fins, resume o palestrante.
Mas, na verdade, ética não pode depender de resultado. Aparece o filósofo alemão Kant, que lança a Ética dos Princípios, baseada no agir corretamente. Valores como honestidade, integridade, transparência são fundamentais. Vender não é tudo. Resultado não é valor, é consequência.
“Ética é a preocupação de todos com a convivência. É a vitória da vontade geral sobre a vontade de cada um”, ressalta o professor. Uma sociedade eticamente desenvolvida é aquela em que as crianças aprendem que a conduta pessoal não deve comprometer a convivência com a família e a sociedade.
Levar vantagem e obter resultados e prazer em detrimento de outros é totalmente antiético, alertou Clóvis. Uma sociedade que tem esta característica cultural é motivo de grande preocupação. Equivale a uma convivência totalmente sem harmonia, onde cada um luta por si, como no reino animal, comparou.
O palestrante citou a torcida japonesa durante os jogos na Copa 2014 como exemplo ético, pois aguardava os torcedores saírem dos estádios para fazer a faxina. Recolhia os resíduos deixados nas arquibancadas em sacos de lixo e os descartavam corretamente. A convivência vale mais do que a comodidade pessoal, foi a lição dos japoneses, disse.
Nos banners corporativos a palavra sustentabilidade aparece com ênfase, citou. Em francês, usa-se a palavra ‘durabilité’, que significa durabilidade. Para o palestrante, ela traduz melhor a ideia que se pretende transmitir. “Conduta boa é aquela que faz com as coisas boas durem”, observou.
Para ele, sustentabilidade não está relacionada apenas ao meio ambiente e à necessidade de preservar a natureza. Também se refere aos valores morais que devem ser aplicados entre as pessoas, acrescentou.
Por outro lado, há que se ponderar o que queremos que perdure. Quais são os valores que desejamos que continuem como são? “É preciso ter cautela”, argumentou.
Clóvis disse que devemos conservar o que é bom e transformar o que é ruim. No Brasil, por exemplo, possuímos índices muito negativos que batem recordes mundiais em concentração de riquezas e desigualdade social. “Para viver melhor, temos que transformar, modificar, revolucionar esta situação”, enfatizou.
O objetivo da ética é aperfeiçoar a convivência e não pode estar baseada em uma verdade pré-estabelecida. Ética é inteligência voltada ao futuro. “Se a palestra estivesse sendo feita há dez anos, haveria pessoas fumando na plateia. Hoje não há, pois os valores mudaram e a convivência foi aperfeiçoada”.
O professor também lembrou que a palavra corrupção é um ato de duas pessoas. O prefixo co possui este significado. “É um ato que envolve o corruptor e o corrompido, destrói o tecido social, destrói a convivência em nome de ganho pessoal”, salientou.
Ao contrário, quando se vive um momento feliz, o desejo é de torná-lo o mais duradouro possível, como um processo contínuo de construção. Este é o sentimento que move a ética, o amor e a sustentabilidade. A humanidade quer felicidade sustentável, duradoura. O palestrante foi muito aplaudido.
* Publicado originalmente no site Centro Sebrae de Sustentabilidade.

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