Olha que assunto interessante, vamos discutir?!
Efetivamente, nos dias de hoje, poucas organizações não têm iniciativas ou projetos de cunho social, embora com motivações bem diversas. Certas empresas fazem por convicção, outras por marketing, algumas por modismo e há aquelas que não podem deixar de fazer, sob pena de ferozes críticas ou represálias de vários stakeholders.
Gostaria de destacar algo que tem mudado – e pode modificar ainda mais – a atuação das companhias na área social: a crise financeira e econômica internacional. De fato, companhias têm objetivos específicos, acionistas e determinados contextos de atuação. Parece uma observação evidente, mas nem sempre nos lembramos disso quando cobramos das corporações que “resolvam todos os problemas da sociedade”.
Das empresas exige-se hoje uma atuação muito focada no negócio. Resultados são cada vez cobrados com maior exigência e orçamentos elaborados e acompanhados com extremo rigor. Não é de estranhar que, quando a atuação social não está verdadeiramente enraizada, se torne um alvo imediato de cortes de despesa e, consequentemente, redução da atividade.
Compreendida esta realidade, empresas que acreditam que a Responsabilidade Social Corporativa é importante para o negócio começam a revisitar suas iniciativas e a repensar sua forma de atuação na área social. Neste ponto, várias opções se apresentam, entre elas uma atuação social que traga resultados para o negócio, seja sob a ótica de aumento de vendas, redução de custos ou gestão de riscos.
A questão que se coloca é: por que um projeto social desenvolvido por uma empresa não pode trazer retorno financeiro naturalmente, desde que proporcione um real benefício social? Por que não encarar a Responsabilidade Social Corporativa como um jogo de “ganha-ganha”? E se uma determinada linha de negócio de uma companhia, desejavelmente lucrativa, trouxer benefícios socias? Trata-se de um tema polêmico? Talvez, mas acredito que seja um caminho neste novo mundo a cada dia mais exigente.
O desafio seria, então, pensar em soluções para problemas sociais que sejam simultaneamente possíveis linhas de negócio.
Não se ambiciona com esta breve reflexão sugerir que apoiar projetos sociais não alinhados ao negócio seja um erro, ou mesmo que a pura filantropia deve terminar. Sempre existe espaço para boas iniciativas. Pretende-se, antes, destacar uma nova oportunidade de atuação social das empresas que pode reforçar as anteriores e, principalmente nos tempos atribulados em que vivemos, ser uma ótima solução para o dilema de cortar custos em projetos sociais, exatamente quando estes se tornam mais relevantes: em situações de crise.
Fonte: *Pedro Miguel Sirgado é diretor Executivo do Instituto EDP, entidade que coordena as ações socioambientais do Grupo EDP.
(O autor)
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